sexta-feira, 5 de junho de 2009

Ao menos 38 mortos em protesto de indígenas no Peru.

Ao menos 38 mortos em protesto de indígenas no Peru

Ao menos 38 pessoas morreram e 50 ficaram feridas entre indígenas e policiais nesta sexta-feira durantes fortes confrontos na província de Bagua, norte do Peru. A polícia atirou de um helicóptero contra um protesto de indígenas amazônicos. O movimento reclama a revogação de um decreto do governo peruano, que deixaria os territórios indígenas vulneráveis.


Manifestantes de Bagua, mobilizados há 2 meses

Os indígenas awajún-wampis iniciaram seu protesto em abril para exigir a eliminação do Decreto Supremo 1090, de autoria do presidente Alan García. Este alega que o objetivo é elevar o investimento privado em zonas ricas em recursos naturais, como petróleo e gás. Os indígenas acusam o governo de cobiçar suas terras. O decreto faz parte de um pacote de medidas no âmbito do TLC (Tratado de Livre Comércio) assinado entre o Peru e os Estados Unidos.

Helicóptero disparou contra protesto

''Quero responsabilizar o governo do presidente Alan García por ordenar o genocídio. Eles estão atirando balas em nós como animais'', disse o líder dos nativos da região, Alberto Pizango, durante coletiva com a imprensa estrangeira. Pizango é presidente da Aidesep (Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana).

O confronto começou às 5 horas da manhã, na localidade conhecida como Curva del Diablo, Bagua Chica, na província de Bagua. Havia pelo menos 5 mil indígenas bloqueando a Rodovia Belaúnde Terry quando foram atacados. Pizango disse que a Polícia Nacional iniciou a violência. ''Estivemos tranquilos, até que a polícia começou a meter bala'', descreveu.

Com voz pausada e comovida, Pizango declarou: ''Quero dizer que estou com ordem de prisão. Quero dizer que meu direito está sendo violado. O governo violou a Constituição, portanto o governo deve responder por esse assassinato.''

O líder indígena afirmou ainda que seus companheiros foram mortos por disparos realizados pela polícia a partir de um helicóptero. O conflito se prolongou por toda a manhã, com os indígenas recuando para a cidade de Bagua, onde puseram fogo em sedes da Apra, o partido de García.

Oposição quer sessão extraordinária
A ministra do Interior, Mercedes Cabanillas, disse a jornalistas que há nove policiais mortos, enquanto fontes médicas da cidade de Chachapoyas elevaram para 25 as vítimas fatais entre os manifestantes, e ainda três jornalistas mortos.
Os protestos obrigaram a estatal Petroperu a suspender temporariamente o único oleoduto que transporta petróleo da selva norte até a costa do Pacífico. A argentina Pluspetrol parou após sua produção no norte do país devido à falta de capacidade de armazenamento.
No Parlamento, a oposição solicitou uma sessão extraordinária para debater a revogação do Decreto Legislativo 1090, que é o alvo do protesto camponês. Assinaram a solicitação deputados do Bloco Popular, União pelo Peru, Aliança Parlamentar e Unidade Nacional.

Para a ministra, ''nativos não são santos''

O presidente García disse mais cedo a jornalistas que responsabiliza ''qualquer evento lamentável'' na zona de conflitos aos dirigentes dos nativos, que ''instigam'' a violência apoiados por políticos opositores ao governo.
Mercedes Cabanillas culpou os indígenas pelo episódio. ''Estamos em um processo de manipulação política. Os nativos não são nenhuns santos, atiraram na polícia.O Estado de Emergência tem que ser ampliado para outras zonas e as Forças Armadas devem participar'', disse Mercedes, antecipando uma escalada da violência repressiva.
O vice-ministro da Justiça, Erasmo Reyna, também tentou desqualificar o movimento. ''Isto não são atods de protesto, mas de destruição, porque houve mortos, entre eles policiais e civis inocentes'', comentou.
Entidades peruanas de direitos humanos contestaram a versão oficial. Afirmam que os indígenas não têm armas de fogo e que Alan García mandou ''desocupar a estrada como der''.

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