sábado, 12 de dezembro de 2009

Namorado: Ter ou nao ter, é uma questão. Mais uma do maravilhoso Drummond

Namorado: Ter ou nao ter, é uma questão

Quem nao tem namorado é alguém que tirou férias nao remuneradas de si
mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado
de verdade é muito raro. Necessita de adivinhaçao, de pele, de saliva,
lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.

Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixao é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil.

Namorado nao precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer
proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase
desmaia pedindo proteçao. A proteçao dele nao precisa ser parruda,
decidida, ou bandoleira: basta um olhar de compreensao ou mesmo de
afliçao.

Quem nao tem namorado nao é quem nao tem um amor: é quem nao sabe o
gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um
envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode nao ter namorado.

Nao tem namorado quem nao sabe o gosto da chuva, cinema sessao das duas,
medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Nao tem
namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar
sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Nao tem namorado quem faz
pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a
felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.

Nao tem namorado quem nao sabe o valor de maos dadas; de carinho
escondido na hora que passa o filme; de flor catada no muro e entregue
de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico
Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a
meia rasgada; de ânsia de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô,
bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Nao tem namorado quem nao gosta de dormir agarrado, fazer sesta
abraçado, fazer compra junto. Nao tem namorado quem nao gosta de falar
do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro
dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Nao
tem namorado quem nao redescobre a criança própria e a do amado e sai
com ela para parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton
Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical na Metro.

Nao tem namorado quem nao tem música secreta com ele, quem nao dedica
livros, quem nao recorta artigos, quem nao chateia com o fato de o seu
bem ser paquerado. Nao tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem
curtir; quem curte sem aprofundar. Nao tem namorado quem nunca sentiu o
gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou
meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Nao tem namorado quem
ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de
obrigaçoes; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Nao tem
namorado quem confunde solidao com ficar sozinho. Nao tem namorado quem
nao fala sozinho, nao ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você nao tem namorado porque nao descobriu que o amor é alegre e você
vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve,
aquela de chita e passeie de maos dadas com o ar.

Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricçoes
de esperança. De alma escovada e coraçao estouvado, saia do quintal de
si mesmo e descubra o próprio jardim.

Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua
janela.

Ponha intençoes de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de
fada. Ande como se o chao estivesse repleto de sons de flauta e do céu
descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante
a dizer frases sutis e palavras de galanteria.

Se você nao tem namorado é porque ainda nao enlouqueceu aquele pouquinho
necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.
Enlou-cresça.

Desejos. Uma do Drummond

"Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu".

Carlos Drummond de Andrade

Jamil Haddad. Presente.
























Figura marcante das lutas democráticas desse enorme Brasil. Um dos principais articuladores da memorável campanha de Lula em 89. Ministro da Sáude e um batalhador pelo medicamento genérico. Presidente de honra do PSB, prefeito do Rio de Janeiro, Senador da República. Grande lutador do time do povo.

Viva Chico.

Amantes. Que maravilha

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Contra escândalos, Lula quer Constituinte da Reforma Política

O presidente Luiz Inácio da Silva relançou, diante do Escândalo Arruda, a proposta de uma Assembleia Constituinte especificamente para fazer a reforma política. Derrotada duas vezes pelo conservadorismo no Congresso, a ideia não tem a menor chance de prosperar em um ano eleitoral. Mas pode se tornar uma bandeira forte da campanha de Dilma Rousseff.

Por Bernardo Joffily

Lula em Kiev: 'Não é possível continuar desse jeito'
"Os partidos políticos deveriam estar defendendo neste momento, depois das eleições de 2010, uma Constituinte específica para fazer uma legislação eleitoral para o Brasil", disse Lula nesta quarta-feira, durante visita à Ucrânia. "Não é possível continuar do jeito que está", desabafou.

"Nós já mandamos duas propostas"...

"Eu acho que é deplorável para a classe política", disse Lula quando os jornalistas indagaram sobre o escândalo no governo do Distrito Federal. Mas na frase seguinte deixou claro que o mais "deplorável" mesmo é a renitente resistência do Legislativo a mudar as regras da política no Brasil:

"...Porque nós já mandamos duas propostas de reforma política para o Congresso Nacional e as pessoas não se importam em votar. Quando seria muito mais fácil a gente votar a reforma política, moralizar o funcionamento dos partidos políticos, moralizar o processo eleitoral", afirmou o presidente.

A imprensa preferiu destacar as explicações do presidente para sua declaração na véspera, de que as imagens da corrupção no DF "não falam por si", interpretada como um gesto de boa vontade para com o governador José Roberto Arruda (DEM).
"Nem fui condescendente nem incriminei. Eu apenas disse que tem um fato que está em apuração, é importante que termine a apuração", disse Lula.

A voz das imagens é um tema episódico. E Lula não poderia ter tido outro comportamento depois de proclamar por tantas vezes que ninguém pode ser prejulgado – referindo-se a seus companheiros de partido e de coalizão acusados no "Mensalão". Já o tema da Constituinte política pode se tornar um grande debate de 2010, e uma grande deliberação de 2011.

Proposta que exige destemor

Dilma Rousseff, a candidata presidencial de Lula – embora não assuma a condição até o Congresso do PT em fevereiro que vem – também tem tratado do tema com interlocutores. Também ela está convicta de que "as pessoas" – no caso, os congressistas – "não se importam em votar".

Teria sido mais preciso dizer "se importam em não votar": como criaturas das regras do jogo em vigor, zelam pela eternização de seu criador.

A alternativa, dentro da institucionalidade, seria convocar a Constituinte da Reforma Política através de referendo: o povo cidadão, detentor originário de todo o poder, decidiria passando por sobre o Congresso.

O tema tem tudo para incendiar e politizar o debate eleitoral de 2010. Exige também certo destemor da parte do bloco lulista: a proposta de reforma deste tem duas molas mestras – o financiamento público de campanha e o voto em listas partidárias – que hoje encontram mais rejeição que apoio nas pesquisas de opinião. Além disso, existe também uma contra-reforma política conservadora na praça, com o voto distrital, puro ou misto, a cláusula de barreira, talvez até o parlamentarismo. Corre na base do governo também a ideia de que, se Lula foi eleito e reeleito com as regras atuais, governou e tem boas chances de fazer a sucessora, por que mudar?

Porém a tese da Constituinte da Reforma Política não precisaria resolver tudo de antemão. Necessariamente teria de ir por partes: primeiro, convencer o eleitor de votar na candidata presidencial que se comprometer com a proposta; segundo, fazer com que vença o 'sim' no referendo, com o forte argumento de que como está não pode ficar; e terceiro, aí sim, eleger os constituintes a partir do debate sobre o conteúdo. No processo, o financiamento público e o voto em lista teriam a sua chance de convencer e vingar, ou não.

Fortaleza Bela. Com a beleza desse povo que não cansa de lutar.......




Até agora, já foram 122 famílias removidas do entorno da lagoa da Zeza para o conjunto Maria Tomásia, construído no Jangurussu, Regional VI, pela Prefeitura de Fortaleza, através da pela Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor). Com o fim da remoção, que beneficiará também a comunidade Vila Cazumba, mais duas históricas áreas de risco da cidade estarão extintas, e as gestões municipais de Luizianne Lins terão eliminado, em definitivo, 10 desses espaços que padeciam, principalmente, nos períodos chuvosos.


“Ai, como eu fiquei feliz, esse habitacional é um sonho, acho que eu nem acordei ainda. Só de saber que eu vou dormir tranquila, meu Deus, já é um alívio”, reconforta-se dona Maristela da Silva, 41 anos, que deixou, na última segunda-feira (30), seu barraco no entorno da lagoa da Zeza para ser moradora do Maria Tomásia. Até o próximo dia 18, a meta da Habitafor é remover 1.126 famílias, num total de 5.630 pessoas, das duas mencionadas comunidades para o conjunto que tem área aproximada de 207 mil m².

A Maria Consolação do Nascimento, a dona Consola, de 41 anos, que vive com sua família de cinco pessoas por anos na Vila Cazumba, conta que na comunidade nunca teve equipamento social, nem infraestrutura. “Nossas crianças o tempo todo adoentadas, com bichos de pé. As pessoas defecam em sacos e jogam por suas janelas em nossas portas ou atiram em nossa lagoa. Agora, com a mudança pro Maria Tomásia, a gente se vê vitorioso”, celebra Consola, até por saber que ela e seus vizinhos contam agora também com praças, quadra poliesportiva, jardins e equipamentos sociais. “A gente tá bastante honrado por tanta graça”, conclui –festeira – dona Consola.

Os antigos barracos e casas de alvenaria que estão ficando no passado dessas famílias são imediatamente demolidos e as áreas urbanizadas. Inclusive, a lagoa Zeza será totalmente requalificada e 346 casas nos arredores das duas comunidades receberão melhorias até o fim da atual gestão municipal. Todas essas mudanças na vida desses beneficiados contam com R$ 29 milhões do município, do Orçamento Geral da União, por meio do programa Palafitas Zero, e do Governo Federal, através do Ministério das Cidades.


::SERVIÇO
Entrega do conjunto Maria Tomásia a 1.126 famílias de áreas de risco
Dias: de segunda-feira (30 de dezembro) a 18 próximo
Locais: saindo das comunidades Zeza e Vila Cazumba indo para o conjunto Maria Tomásia
Horários: sempre de 8 às 12h e 13 às 17h

Endereços e Itinerários

Maria Tomásia: rua Verde Quarenta e Quatro, s/n, Regional VI. Siga pela a Expedicionário até a Perimetral. Lá, entre à esquerda. Quando chegar ao Motel 3.000, entre à direita. No final desta avenida, entre à esquerda e siga até o final da linha das topics. Pegue a próxima rua larga à direita e vá até o final dela. Este dito final é em forma de S. Faça o S e siga em frente até o conjunto Maria Tomásia.

Lagoa da Zeza: Na av. Rogaciano Leite, sentido Iguatemi/ BR-116, após o semáforo da Câmara dos Vereadores, entre, à direita, na rua Padre Francisco Pita, que faz esquina com o Centro Integrado de Educação e Saúde – CIES Maria de Lourdes. Daí, siga, que a comunidade da lagoa da Zeza fica entre as ruas Padre Francisco Pita e Castro de Alencar.

Vila Cazumba: No final da av. Rogaciano Leite, sentido Iguatemi/ BR-116), dobre, à esquerda, na av. Desembargador Gonzaga, como quem vai pra Igreja da Glória. Na rua José do Nascimento, dobre à direita. Depois, a primeira à direita, que é a rua Teofredo Goiânia. A comunidade fica do lado esquerdo da rua Teofredo, entre a rua José Leônidas (2ª rua perpendicular) e a av. José Leon.

Mais uma do Emir.

O sub-udenismo

Por mais diferentes que possam parecer as condições históricas, a polarização política atual se parece incrivelmente àquela de décadas atrás entre Getúlio e a oligarquia paulista. Alguns personagens são os mesmos – os Mesquitas, por exemplo -, outros se agregam a eles – os Frias, os Civitas -, os partidos tem outros nomes – PSDB no lugar da UDN; PSOL, no lugar da Esquerda Democrática; FHC no lugar de um udenista carioca, mas o xodó da direita paulista de então, Carlos Lacerda; intelectuais acadêmicos mudam de nome, mas repetem o mesmo papel.

O anti-getulismo era o mote central que aglutinava a direita e setores de esquerda que, confundidos, se somavam àquela frente. Na defesa da “liberdade” de imprensa, supostamente em risco, quando o monopólio era total – com exceção da Última Hora – em favor da oposição. Liberdade de educação, supostamente em risco, a educação privada, pelos avanços do “estatismo” getulista.

Em defesa do Estado, supostamente assaltado por sindicalistas e pelo partido do Getúlio – o PTB – e pelos sindicalistas, petebistas e comunistas. Excessiva tributação do Estado, populismo de aumentos regulares do salário mínimo. Denúncias de corrupção. Alianças internacionais com intuitos de abocanhar governos em toda a região, tendo Perón como aliado estratégico.

Era a polarização da guerra fria: democracia contra ditadura, liberdade contra totalitarismo. O Estadão se referia nos seus editoriais ao governo “petebo-castro-comunista”, quando falava do governo Jango, uma continuação do de Getúlio.

A Esquerda Democrática, que tinha surgido dentro da UDN, depois se abrigou no Partido Socialista, se opunha ferreamente à URSS (ao stalinismo), aos partidos comunistas e ao getulismo, como um bloco único. Era composta bascamente de intelectuais, os principais – como Antonio Cândido, Azis Simão, entre outros – fizeram autocrítica por terem finalmente ficado com a direita contra Getúlio.

O Partido Comunista, que em 1954 tinha ficado contra Getúlio, somando-se à oposição, teve que sentir a reação popular, quando os trabalhadores, assim que souberam do suicídio de Getúlio, se dirigiram em primeiro lugar à sede do jornal do PC, para atacá-lo. Um testemunho dramático revela os dilemas em que tinha se metido o PCB: Almino Afonso, extraordinário parlamentar da esquerda, ia se somar à marcha, apoiada pelos comunistas, contra Getúlio. Quando a marcha chegou ao Largo São Francisco, onde se somariam os estudantes, Almino se deu conta que a marcha era liderada pelas madames representantes da mais reacionária burguesia paulista. E, nesse momento, se perguntou, onde tinham se metido, com quem, que papel estavam jogando. E se deu conta que estavam do lado errado, com a direita, contra Getúlio.

Atualmente, o bloco opositor ao governo Lula está composto de forças as mais similares àquelas que se opunham a Getúlio. O governo Lula aparece sendo acusado de coisas muito similares: estatismo, impostos, sindicalistas, corrupção, apropriação do Estado para fins partidários, gastos excessivos com políticas sociais, alianças internacionais que distanciam o país da aliança com os EUA, favorecendo a lideres nacionalistas, etc.,etc. Então e agora, a oposição conta com a SIP – Sociedade Interamericana de Imprensa -, que pregou e apoiou a todos os golpes militares no continente.

Como agora, a frente direitista foi sempre derrotada pelo voto popular, a ponto que a UDN chego a pedir o “voto de qualidade”, com o pretexto de o voto de um médico ou de um engenheiro deveria valer mais do que o voto de um operário, no seu desespero de sentir que perdia o controle do país para uma coligação apoiada no voto popular.

Da mesma forma que depois da morte de Getúlio, se chocam o desenvolvimento e o “moralismo” privatizante da UDN, um projeto nacional e popular e o revanchismo de 1932, que pretende que a elite paulista é a locomotiva da nação, quando ela se apóia no trabalho dos milhões de trabalhadores superexplorados pelas grande empresas internacionalizadas, milhões de trabalhadores, entre os quais se encontram os retirantes do nordeste, que foram construir a grandeza de São Paulo.

O sub-udenismo atual – o primeiro como tragédia, o segundo como farsa - está tão fadado ao fracasso e a desaparecer de cena – FHC, Tasso Jereissatti, Bornhausen, Marco Maciel, Pedro Simon – como desapareceram seus antecessores, a começar por Carlos Lacerda – de que FHC é uma triste caricatura. Inclusive porque agora lhes falta um elemento essencial – poder bater nas portas dos quartéis, pelo que eram chamados de “vivandeiras de quartel”. Resta-lhes o traje escuro do luto, cor preferida de Lacerda e que cai tão bem em FHC – a cor do corvo, a ave de rapina, ave de mau agouro, a quem só resta ser Cassandra de um caos que souberam produzir, mas que foi superada exatamente pela sua derrota e seu fracasso. Sobre o seu cadáver se edifica o Brasil para todos.

sábado, 28 de novembro de 2009

Aos que lutam.

Do que vale a vida se não for um libelo do tempo novo. O prelúdio da canção libertária dos sonhos coletivos. A realização na lutas em tempo presente do paraíso antecipado do desejo de igualdade de toda humanidade. Lá no fundo da alma sentir intensamente pelo próximo, amá-lo como a si mesmo, sentir a dor de todo o povo e ao mesmo tempo saber o tamanho do seu gozo libertário, que só os que o ama na sua mais profunda essência pode explodir.

Pe Haroldo. Símbolo de amor aos oprimidos.

Canção linda demais. Nosso Lulu.

Nas eleições do PT.































Votando logo cedo e depois acompanhando nossa nova presidenta do PT Luizianne Lins na votação junto com o ministro José Pimentel, o vereador Ronivaldo Maia, Haroldo Pontes , Arimá Rocha, Moacir Tavares e outros(as) militantes petistas. Domingo 22/11

Como um homem desse não é neoliberal?
















Serra e Aécio neoliberais empedenidos. Ainda tem gente que se ilude, acha que não. Já pensou.

Em Acaraú.













Na quarta-feira 25/11 no seminário "Da Roça para Escola" promovido pelo mandato do deputado federal Eudes Xavier-PT em Acaraú. Aproveitei para trocar algumas idéias com o prefeito Pedim do Cleto-PT e o ministro Guilherme Cassel do Desenvolvimento Agrária. Abraçei companheiros e companheiras lutadores da região do Baixo-Acaraú.

sábado, 21 de novembro de 2009

Feriado nacional no Dia da Consciência Negra.

Lula anuncia feriado nacional do Dia da Consciência Negra

A comemoração do Dia da Consciência Negra nesta sexta-feira (20/11) em Salvador vai entrar para a história da luta pela igualdade racial no Brasil. Em solenidade na Praça Castro Alves, no Centro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que a partir de 2010, o 20 de Novembro será feriado nacional, além de prometer empenho total para a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, em tramitação no Senado, até o final do ano. O ato político fechou um dia cheio de atividades na capital baiana.

Lula discursa na Praça Castro Alves

Mais que decretar um novo feriado, o presidente Lula atendeu a uma reivindicação antiga do movimento negro brasileiro: o reconhecimento da importância de Zumbi dos Palmares e de tudo que o líder quilombola assassinato em 1695 representa para o povo brasileiro. “O assassinato do líder do Quilombo dos Palmares foi uma tentativa de fazer com que os escravos desistissem de lutar pela liberdade, mas o efeito foi contrário, pois Zumbi deixou de ser um simples homem para se tornar símbolo da luta de um povo, que ainda hoje briga por igualdade de direitos e oportunidades. Reconhecer o heroísmo de Zumbi é uma ação de reparação para a maioria da população brasileira”, afirmou o ministro da Seppir, Edson Santos.

Terras Quilombolas

Durante a solenidade, o presidente Lula assinou 30 decretos para a titulação de comunidades de quilombos, em 14 estados, além de lançar o Selo Quilombola, marca que será atribuída aos produtos artesanais confeccionados por comunidades de remanescentes de quilombos de todo o país. Antes de falar para a multidão, o presidente recebeu ainda a Medalha Zumbi dos Palmares concedida pela Câmara de Vereadores de Salvador. A vereadora Olívia Santana representou o PCdoB na entrega da homenagem.

“Ano que vem eu espero está comemorando com vocês avanços muito maiores nas políticas de igualdade racial deste país. Em 2010, já estará completando um ano do feriado do Dia da Consciência Negra, da sanção do Estatuto da Igualdade Racial e quem sabe estaremos aqui entregando não trinta títulos de terras a comunidades quilombolas, mas uns 300 ou 500 títulos. O reconhecimento destas comunidades é essencial para vê se a gente consegue amortizar esta dívida histórica que o Estado tem com o povo negro do país”, ressaltou Lula.

O presidente falou ainda da necessidade de combater todas as formas de racismo. “A lei diz que racismo é um crime inafiançável, mas isso não é o suficiente para resolver o problema. A lei não coíbe a pior forma de racismo, que aquela sutil, que acontece todos os dias no mercado de trabalho, quando negam ao trabalhador negro um cargo de direção devido a cor de sua pele. A sociedade brasileira precisa entender de uma vez por todas que uma pessoa não pode ser medida pela sua cor, mas sim pelo seu caráter e que todos somos iguais”, disse.

Governador Wagner

A necessidade de oportunidades iguais para todos também foi ressaltada pelo governador Jaques Wagner, que prometeu empenho total do seu governo na continuidade das políticas afirmativas desenvolvidas pela Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade (Sepromi). “Temos que comemorar os avanços até agora conquistados, mas ainda temos muito mais a fazer para que os moradores dos bairros populares não sejam tratados como marginais pela polícia, por exemplo. Vamos continuar trabalhando, com o apoio do governo Federal, para garantir mais investimentos em moradia, alimentação e saúde do povo negro desta cidade”, concluiu Wagner.

O ato publico, acompanhado por milhares de pessoas, contou também com a participação do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas; os ministros da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Edson Santos; dos Esportes, Orlando Silva; da Casa Civil, Dilma Rousseff; da Cultura, Juca Ferreira, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire; da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, além de secretários estaduais e municipais, lideres religiosos e outras lideranças políticas, como o presidente do PCdoB na Bahia, deputado

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A Esquerda depois do Muro. Emir Sader

A Esquerda depois do Muro

A queda do Muro de Berlim marca o fim do período aberto com a Revolução Soviética de 1917 que – para dizê-lo em palavras de Georgy Lukacs – colocou o socialismo como um tema da “atualidade histórica”. As lutas revolucionárias, mesmo na atrasada periferia capitalista, passaram a ter o socialismo como objetivo. A passagem do capitalismo à sua fase superior, o imperialismo - segundo a clássica analise de Lenin, confirmada pelas duas guerras mundiais, ambas interimperialistas – constituía uma cadeia mundial que articulava a todas as sociedades existentes. A Revolução Soviética era explicável nessa lógica e se via como possivel “saltar etapas”, construir uma revolução anticapitalista dirigida pelo proletariado.

“Revolução socialista ou caricatura de revolução”, disse décadas depois o Che, sintetizando o significado da atualidade da revolução socialista. Os grandes debates da esquerda se davam então em torno das estratégias diretamente socialistas ou etapistas, reformistas ou revolucionárias, parlamentares ou insurrecionalistas, mas sempre na direção do socialismo. O tema do poder e da profundidade que deveriam ter as transformações uma vez alcançado esse objetivo, estavam também no centro dessa discussão.

O proceso chileno do comeco dos anos 70 é um claro exemplo desses debates e dilemas. Discutiam-se as vias de construção do socialismo, mas não o objetivo em si, o socialismo – mesmo Allende tendo sido eleito com um terço dos votos e a Unidade Popular ter conseguido aumentar para um máximo de 43% dos votos seu apoio. Ainda assim Allende começou a colocar em prática um programa que pretendia expropriar as 150 maiores corporações instaladas no Chile. Mas como destruir o capitalismo e constuir o socialismo, sem contar com o apoio da grande maioria do país? A esse dilema teve que se enfrentar a esquerda chilena, sem nunca questionar se as condições para a implantação imediata do socialismo estavam dadas.

1989 e suas consequências imediatas – o fim do campo socialista, da URSS e da bipolaridade mundial – fizeram com que o mundo ingressasse em um novo periodo histórico. Terminou a etapa da bipolaridade e o socialismo desapareceu da agenda mundial como “atualidade histórica”. A isto se somou a adesao da China a uma economia de mercado e a virada de Cuba para uma situação de defensiva, durante seu “período especial” e, no campo da esquerda, ter como objetivo central a luta antineoliberal.

Esse novo período se caracterizou tambem pela passagem de um ciclo longo expansivo do capitalismo – que Hobsbawn caracterizou como “a era de ouro capitalismo”, do segundo pós guerra à crise de 1973 – a um ciclo longo recessivo e por passar da hegemonía de um modelo regulador (ou keynesiano ou de bem-estar social) a um modelo desregulador, neoliberal. A combinação dessas três viradas – todas de carater regressivo – fizeram com que a esquerda passasse de um protagonismo esencial a uma situação de defensiva e de perda de iniciativa.

Sua nova cara apareceu com o Fórum Social Mundial, que levantou um lema minimalista, já não mais anticapitalista e socialista, mas simplesmente “Um outro mundo é possível”. Não se menciona que mundo será esse, ainda que se possa deduzir que seja antineoliberal, mas não necesariamente anticapitalista. Nesses lemas a referência ao capitalismo desaparece, mesmo se se faz referência direta à mercantilização – “O essencial não tem preço” -, característica essencial das análises de Marx.
Com o muro caiu tambem uma determinada maneira de interpretar o mundo. Na era bipolar havia duas interpretacoes em disputa: uma considerava que a contradiçãao fundamental no mundo contemporâneo era entre capitalismo e socialismo; a outra acreditava que era entre democracia e totalitarismo. Com a vitória do bloco occidental triunfou tambem sua versão do mundo e a democracia liberal passou a ser sinônimo de democracia, enquanto a economia capitalista se tornou equivalente a economia.

O tamanho da derrota e dos retrocessos para a esquerda foram enormes e, ao mesmo tempo, difíceis de medir concretamente. Basta dizer que a chamada “globalização” se erigiu em alguns dos seus aspectos fundamentais sobre esses reveses. A incorporação ao mercado mundial de territórios que estavam parcial ou totalmente subtraídos dessa órbita, como a China, os países do leste europeu e a Rússia.

As empresas estatais foram maciçamente transferidas para o mercado mediante extensos e acelerados processos de privatização. Recursos naturais como a água foram mercantilizados e passaram a mãos privadas. Os direitos à saúde e à educação foram transformados em bens negociáveis no mercado. Os Estados planificadores foram reduzidos ao Estado mínimo. A abertura dos mercados debilitou as soberanias nacionais. A maior parte dos trabalhadores deixou de ter a segurança dos contratos de trabalho.

Vítimas privilegiadas deste novo período foram a classe trabalhadora e o movimento sindical; o socialismo e as forças de esquerda; o Estado, os partidos e a política; a planificação econômica e as soluções coletivas. O individualismo possessivo, o mercado, o egoísmo, o consumismo, os shopping centers, as grandes marcas, as empresas como símbolo do dinamismo econômico, entre outros valores, passaram a constituir o novo modelo econômico. O neoliberalismo tornou-se dominante não apenas como política de governo, mas como modelo hegemônico, como valores, como forma de vida.

Nesse marco, o que caracteriza a esquerda do século XXI, aquela posterior à queda do Muro? Antes de tudo, ser antineoliberal. O neoliberalismo representa a forma mais desenvolvida do capitalismo, porque promove a seu nível mais alto a mercantilização, a transformação de tudo em mercadoria, a conversão do mundo em um lugar em que tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra. É o modelo hegemônico que articula todo o sistema econômico, político e ideológico do poder mundial. Mas o que significa ser antineoliberal?

Não somente opor-se e resistir às políticas neoliberais, mas desmercantilizar, afirmar direitos contra a competição do mercado, construir a esfera pública contra a esfera mercantil. Na América Latina é onde a nova esquerda pós-Muro de Berlim mais se desenvolveu. É aqui onde o neoliberalismo nasceu. Aqui os governos dessa tendência mais se multiplicaram e da forma mais radical. Nossa região reagiu frente às graves consequências dessas políticas, elegendo, desde 1998, o maior número de governos progresistas da nossa história. Governos que têm diferenças em suas políticas, mas todos se caracterizam por dois elementos essenciais: todos eles privilegiam os processos de integração regional contra os Tratados de Livre Comércio com os EUA e o privilégio que dão às políticas sociais em contraposição ao privilégio dos ajustes fiscais do neoliberalismo.

Esta nova esquerda, nascida da resistência ao neoliberalismo, tem assim diferenças no seu interior: por um lado estão os governos mais moderados, como os do Brasil, da Argentina, do Uruguai, do Paraguai, de El Salvador, da Nicarágua; e os mais radicais, como os da Venezuela, da Bolívia, do Equador, de Cuba. Mas todos se colocam como objetivo a superação do neoliberalismo, alguns para construir modelos pós neoliberais, outros para avançar na direcao do anticapitalismo e do socialismo. Trata-se de uma esquerda que se deu conta de que não basta resistir, denunciar e protestar – tarefas indispensáveis de quem se opõem a um mundo dominado pelo poder das armas, do dinheiro e do monopólio da palavra -, mas que também é preciso construir o “outro mundo possível”, como alternativa concreta, para o que é preciso disputar hegemonia, inovar projetos e vias, se lançar a criar a esquerda do século XXI, para que os reveses tenham sido tropeços e não quedas, e as lições sirvam para avançar em lugar de seguir chorando sobre o Muro caído.

102 anos de Valdemar Caracas.














Repito o texto que escrevi (publicadao no jornal O Povo e no site oficial do Ferroviário em 2007) pela ocasião das comemorações dos 100 anos de Valdemar Caracas. Nos 102 anos do velho Caracol nada mas justo que relembrarmos essa singela mas profunda homenagem.

Valdemar Caracas uma lenda viva

Não podemos chamar a chegada de nenhum ser humano aos cento e dois anos meramente de aniversário. É reduzir demais essa magnífica vitória alcançada por poucos sobre o impiedoso tempo. Não é fácil chegar a essa marca. São cento e dois anos, cento e dois carnavais, cento e dois janeiros, cento e dois novembros. É obvio que as marcas indeléveis do passar dos anos aparecem inevitavelmente, às vezes de forma muito dura. Na maioria das vezes, passamos a não enxergar mais tão bem, a audição a não funcionar como antes e o andar já não é tão lépido como em outros tempos.

Não podemos negar, no entanto que, se o feito por si só já é um grande acontecimento, imagine atingir essa magnânima marca em forma? Isso mesmo, em forma! Mesmo sem os olhos e ouvidos não terem a perfeição de antes, ouvir e enxergar como nunca, por se fazer isso com o coração. Falar com firmeza, porque a voz que vem da alma, marcada pela experiência de tão longeva caminhada dedicada ao trabalho e as paixões, a faz soar como um libelo de exaltação a vida.

Tudo isso agregado a uma lucidez de impressionar e a uma memória de fazer inveja a muita gente na flor da idade, fazem de um homem uma lenda e, o mais interessante: uma lenda viva, vivíssima.

Alguns feitos falam por si. A lenda da qual nos referimos dentre outras peripecias é só, e simplesmente, o fundador do mais simpático time do nosso futebol (ninguém de sã consciência é capaz de contrariar essa afirmação). Aqui, não vou negar, a paixão é comum. O Ferroviário é filho do seu Caracas, que com seus colegas operários ofereceram a humanidade não um time de futebol, mas uma oportunidade rara de sermos felizes em tempos tão cheios de desamor e violência. E não me refiro ao mero e aqui menos importante ganhar ou perder. Aliás, já faz tempo que o Ferrim (ou Ferrão) não ganha nada mesmo. Portanto, não entremos nessa seara. Estamos falando é de paixão!

Não bastando a proeza, o nosso secular cidadão foi também o primeiro treinador a ganhar um titulo estadual para o time da Estrada de Ferro. O Caracol (outra alcunha do centenário homenageado) também é o vereador vivo mais antigo de Fortaleza, fundador do Partido Socialista Brasileiro no Ceará, o mais velho aposentado da previdência do Estado, ex sub-prefeito de Parangaba, primeiro cronista esportivo do Ceará, esposo apaixonado por sua saudosa Anete (in memorian), grande amigo, pai, avô, bisavô, dedicado e carinhoso a todos que privam do seu convívio.

Por tudo dito até aqui, e por muito mais que não cabe neste artigo, rendo as mais profundas homenagens em seus cento e dois anos a Valdemar Cabral Caracas: homem comum que transcendeu o anonimato. Não pelo forjado culto individualista e mercadológico a falsas “lendas” e "mitos" criados a cada instante pela sociedade do consumo; mas por trazer na alma a simplicidade, a coerência e a honestidade tão características da nossa gente, tão bem simbolizadas pela sua história que, para nossa alegria, atravessa mias de um século.

Antonio Carlos de Freitas Souza - Professor, radialista, cronista esportivo (membro da Abrace e Apcdec).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

40 anos do assassinato de Carlos Marighella

Carlos Marighella. Presente

Liberdade

Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.

Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.

Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.

E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome”

São Paulo, Presídio Especial, 1939

O mundo anda tão complicado. Mais Legião.

Legião. Embalando o final dos 80 e os 90. Muito Bom.

Imperdível. Janis Joplin. Cry Baby.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

"Tsunami em uma tigela" ou colocando as coisas em seus devidos lugares.

Em momento algum nas entrevistas ou em qualquer outro pronunciamento político da prefeita Luizianne Lins observamos alguma atitude que não seja de apoio e reconhecimento da parceria profícua seja política ou administrativa entre a mesma e o governador Cid Gomes do PSB, pelo contrário qualquer interpretação diferente disso não passa de leituras subjetivas que não podem sobrepor de maneira alguma uma leitura política equilibrada e correspondente aos fatos. Por algumas interpretações pessoais já publicadas e expressas nos veículos de comunicação após entrevista concedida por Luizianne no O Povo no dia 9/10, podemos ser levados a acreditar que Luizianne é contra o apoio a reeleição de Cid Gomes, e que está defendendo a candidatura própria do PT mesmo sem antes serem observadas algumas movimentações políticas decisivas para definição do quadro eleitoral de 2010. Portanto criar um clima de “tempestade em “copo d’água” por conta de uma análise conjuntural fiel a posição unânime do seu partido feita por um quadro político e exposta legitima e honestamente diante de um cenário que pode vir acontecer a luz dos fatos postos no atual xadrez político nada mais é que um tremendo exagero.

Outro absurdo são as insinuações de que a prefeita "estaria sendo injusta" com a relação à parceria progressista e de mão dupla com o governador Cid Gomes e o apoio que teve do mesmo quando dentre outras situações enfrentou dificuldades no seio familiar, isso não tem sentido não cabe e chega a ser desonesto. A relação entre o governador e a prefeita é de respeito, solidariedade e, sobretudo de transparência. A companheira Luizianne (vejo em Cid Gomes algumas dessas características) é de uma geração de políticos cuja franqueza, a coerência, o senso coletivo e a sinceridade em dizer o que pensa pode até surpreender aos que não estão acostumados com esse fazer político que a meu ver deve ser o correto e é tão constantemente cobrado corretamente pelos formadores de opinião.

Estamos tratando de uma possibilidade política que se concretizada colocará o PT diante de algumas contradições que exigirá dele (PT) um posicionamento objetivo. Não é fácil também para o governador, que também tem que se posicionar. Cid Gomes, aliás, já vem se posicionando sobre o assunto, já afirmou que apóia independente de qualquer coisa Ciro Gomes (PSB) caso o mesmo seja candidato a presidência. Negar ou não reconhecer que a candidatura de Ciro Gomes mexe no tabuleiro da sucessão no Ceara em 2010 é um erro crasso. Não só por conta de uma provável disputa com a candidata do PT a presidência, o que em si já traria algumas dificuldades, mas, sobretudo pela relação política intrínseca do deputado Ciro Gomes com o senador neoliberal Tasso Jereissati (PSDB), cujo governo Cid Gomes é a antítese. Esse é o debate principal.

É essa a posição de todas as forças do PT, todas. Todas elas votaram na resolução que reabre o debate diante da candidatura de Ciro Gomes a presidência, quem disser o contrário estará faltando com a verdade. A provável candidatura do PSB a presidência (de Ciro principalmente) altera a conjuntura eleitoral em 2010 no Ceará e não só o PT como todas as outras forças políticas irão se posicionar diante dos fatos objetivos no tempo e na hora necessária. Ciro como nenhum outro brasileiro (a) não está com sua candidatura homologada por motivos óbvios inclusive os prazos legais. “Muita água ainda vai rolar por baixo da ponte” até o prazo limite das convenções, portanto, acho que há uma tempestade em um copo d’água. Luizianne não fez nada mais nada menos que expressar o que já foi feito várias vezes por outros companheiros e companheiras que é a resolução partidária. Teve até quem que escrevesse no final de semana que Luizianne não defendia nem a candidatura de Ciro para o governo de São Paulo um serviço a desinformação. Luizianne deixa claro na entrevista que é importante Ciro ser candidato a governador em São Paulo para derrotar o PSDB, essa posição está expressa cabalmente na entrevista transformada em um “tsunami em uma tigela”.

Quem traduz a entrevista e assim não a interpreta está fazendo de forma equivocada. O que a prefeita colocou e ela pertence a um partido, que tem que se posicionar diante de novos fatos na conjuntura. É de que, caso Ciro Gomes saia candidato á presidência é provável que o PT tenha que avaliar a sua resolução que aponta para o apoio a reeleição de Cid Gomes no palanque da sucessora petista do presidente Lula e dos dois candidatos ao senado da base do governo Lula. Não há nenhuma motivação gerada por uma crítica as relações administrativas, ou veto ao governador Cid Gomes, de maneira alguma, pelo contrário, a prefeita Luizianne defende a reeleição de Cid Gomes e reconhece publicamente e internamente no partido os avanços do seu governo, qualquer interpretação contrária a isso de fato é uma interpretação, aliás, bem distante da realidade e carregadas ilações imprecisas e em certo ponto maldosas.

Cid Gomes faz um importante governo de superação do período neoliberal no Ceará, como faz o presidente Lula no Brasil cada um a seu modo e ao seu tempo e dentro de contextos políticos com algumas semelhanças e algumas naturalmente algumas diferenças.

O único fator que poderá altera essa conjuntura e que passa por uma decisão coletiva do partido é Ciro Gomes ser candidato a presidência da república, por motivos óbvios, Ciro Gomes tem uma aliança que parece inquebrantável com o senador neoliberal tucano Tasso Jereissati, que provavelmente a convite de Ciro Gomes (que já declarou apoio a reeleição de Tasso ao senado) esteja em seu palanque. O que a meu ver vai de encontro ao que significa o governo Cid Gomes, que mesmo contando com o apoio do PSDB o derrotou nas eleições e tem uma aliança governamental onde o PT e as forças de esquerda hegemonizam o governo. Portanto não se trata de questões pessoais, de falta de gratidão ou de tratar de forma deturpada na “tradição da manchete espetacularizada” (muitas vezes fora do contexto) uma questão que é meramente política.

Tentar separar a dirigente petista Luizianne Lins (como qualquer outro) das posições partidárias é no mínimo um equivoco cometido dos que tanto cobram a fidelidade e a coerência com as deliberações partidárias. Aos desavisados é bom lembrar que Luizianne foi decisiva no apoio do PT (aqui por características diferentes em um processo complexo e pela pluralidade do partido e as características do PT imaginem quão difícil foi fazer o partido compreender a necessidade da aliança com um grupo que começava ali seu rompimento com o modelo político e de “desenvolvimento” dos tucanos no Ceará). Nesse caso a família petista, grande, complexa e plural com muitos debates e foi convencida a apoiar Cid Gomes para o governo. O tempo nos mostrou que a opção foi correta com os companheiros (as) que naquele momento optavam por um tradicional partido aliado da esquerda brasileira o PSB.

Luizianne não foi à única dirigente para sermos honesto que defendeu a tese da candidatura do PSB em 2006, mas inegavelmente foi decisiva e importantíssima pelo seu peso social e político para a vitória da base aliada de Lula no Ceará e derrotarmos o PSDB, isso é fato. Pra quem não entende como funciona o PT, pode achar que essa é uma tarefa fácil ou menor. Talvez essa tenha sido uma das decisões mais difícil do petismo no Ceará, desde 1982 que o PT lançava candidatura própria para o governo do estado.

Avaliamos ter sido correta nossa opção, o que não impede de nos espaços corretos se avaliar, sugerir, criticar quando necessário no intuito de consolidarmos essa transição. Por isso mesmo Luizianne e seu grupo elaborou a resolução aprovada unanimemente no PT que aponta a necessidade de sua reeleição de Cid Gomes-PSB em sintonia com o projeto Democrático e Popular no palanque do sucessor (a) petista do presidente Lula a presidência da república em 2010. Ter sido escolhida como candidata praticamente de consenso para presidir o PT não significa um passo na busca de aprofundar esse processo de superação neoliberal no Ceará? Claro que sim. Agora se esperaram de Luizianne alguém que confundisse aliança com aliancismo o fez sabendo que não é essa a postura dessa militante. Luizianne defende a aliança com Cid Gomes e toda a base do governo Lula no Ceará. Costurou brilhantemente em sua reeleição essa alianças (ficando de fora apenas setores da base de Lula que preferiram manter em âmbito local a aliança com o PSDB do senador Tasso Jereissati. O “final dessa história” já conhecemos. Luizianne venceu no primeiro turno.

Cid Gomes apoiou e teve uma importante participação nesse processo, isso sempre foi reconhecido publicamente pela prefeita Luizianne Lins. Cid Gomes como membro do grupo político que tem Ciro Gomes como sua maior referência é bom que se diga de forma coerente e correta é o que mais avança em fazer uma diferencial ao seu estilo e em seu ritmo do modelo político e administrativo dos tucanos. Em 2008 ao apoiar Luizianne na prática demonstrou essa postura. O mesmo não podemos dizer do “grupo político” como um todo, que, aliás, nem todo ele se encontra no PSB(alguns membros importantes foram para o PDT sendo opção do senador tucano para derrotar os aliados de Lula que estavam unificados em torno da candidata petista) o que comprova que as contradições da conjuntura não são privilégios somente do PT. Luizianne jamais deixará de se posicionar diante de fatos conjunturais que não sejam correspondentes aos interesses do PT e a consolidação do projeto Democrático e Popular construído envolvendo integralmente importantes aliados e que está mudando a história do Brasil.

Não precisa ser um gênio para se fazer essa leitura óbvia, que faz Luizianne, a Direção Estadual do PT de forma unânime (e nada de combinado, diga-se de passagem) ou qualquer analista político ou cidadão que minimamente esteja acompanhando o cenário político nacional e faça uma analise política coerente com os fatos presentes e as possibilidades futuras. Outro equivoco é achar que essa é uma orientação de A, B, C ou Z, quem conhece a companheira Luizianne sabe que não é muito afeita a “gurus” a não ser a boa e atual literatura marxiana, tendo a dialética como método de análise submetida logicamente às deliberações coletivas.

Duas candidaturas a presidência da base de Lula causará esse debate em qualquer estado da federação em maior ou menor grau. No Ceará dois elementos traz mais complexidade ao cenário e não podem ser desprezados. O primeiro é que se trata de Ciro Gomes o candidato em questão. Nome de peso e importante da política brasileira e irmão do governador Cid Gomes (nesse caso o componente familiar pesa mais que em outros momentos). O outro é a relação política de Ciro Gomes com o senador Tasso Jereissati. Ciro critica muito fortemente Serra e FHC, mas tem não coloca no mesmo barco o senador tucano cearense, como também alivia a barra de Aécio Neves também do PSDB, ambos deram sustentação ao projeto neoliberal liderados pelo governo FHC e suas experiências nos estados com privatização (inclusive a da Coelce) e todas as mazelas o modelo baseado no "estado mínimo" ditado pelo capital internacional em conluio com a subserviente e anti-povo elite brasileira. Quanto ao PSDB os defensores das causas perdidas do neoliberalismo em terras patativenses, antes de vociferarem toda sua ira contra o PT, o governo Lula e as exitosas administrações petista em Fortaleza e em todo Ceará, examinem os resultados das últimas eleições observarão que paulatinamente o povo vem rejeitando a política das privatizações, seus e suas representantes. O debate é esse, o resto é tsunami em uma tigela.

Antonio Carlos de Freitas Souza
Secretário Geral do PT-Ceará

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Depois da tragédia neolibaral dos tucanos. A vez do povo.

















Imagens recentes das obras do Hopital Regional do Cariri.

Depois de muitos e muitos anos em que o Ceará só tinha (só tem ainda) o velho IJF (hospital que atende grandes traumas e procedimentos de alta-complexidade) e mesmo após quase duas décadas de "tassismo" e seu neoliberalismo "modernizante" é que estão sendo construídos dois grandes hospitais regionais. Só agora no governo Cid Gomes (PSB) por opção e decisão política, estão em obras (Juazeiro) ou em licitação (Sobral) dois grandes hospitais no interior do estado. Não se corrige uma dívida social em dois governos, agora não reconhecer esse mérito é um grave erro. Saúde preventiva, mais hospitais menores (que estão sendo feitos), tudo bem precisa, mas não dar para comparar o período neoliberal de Tasso/PSDB e aliados no Ceará com os três anos somente do governo Cid Gomes. Não adianta dizer também que não precisamos de grandes hospitais que atendam todo tipo demandas, é óbvio que sim, grandes traumas e altas-complexidades se apresentam em todo o estado e é necessário sim desafogar IJF. Corretíssima essa visão do Governo.
Há problemas há, óbvio que há vivemos em uma sociedade capitalista por natureza desigual, mas há uma diferença enorme em comparação ao período de hegemonia quase absoluta do neoliberalismo em terras patativenses. "A perseguição" da CPRV e o disciplinamento do trânsito (os excessos devem ser denunciados sim) não são argumentos objetivos para uma análise ou balanço crítico do atual governo. As acho até despolitizadas, fazer um discurso "só para agradar" dizendo que o que está errado é certo, não faz parte de uma postura coerente e ética que deva nortear nossas ações sejam na esfera pública ou privada.



terça-feira, 6 de outubro de 2009

Para Bergson.












Bergson Gurjão de volta a sua terra natal.
Além do seu pedaço de chão
Ultrapassou todas as outras terras
Onde não coube seu desejo de liberdade
Nessas terras onde a grandeza da vida ainda não se fez plena
Ganhou a eternidade
Onde escreveu com sua própria vida a palavra liberdade
Para todo o sempre
No coração de quem treme de indignação
Diante de qualquer injustiça
Cometida contra qualquer ser humano
Em qualquer parte do mundo.

Bergson Gurjão. Presente

domingo, 4 de outubro de 2009

A Que Florezca Mi Pueblo

Mercedes Sosa

Quiero cantarle a mi tierra
Y que florezca
Dentro del clima mi pueblo
Y su primavera
Inaugurar mil palomas de pan
Y que no mueran
Quiero elevarme en un grito
Y tal vez pueda
Tomar el sol de la mano
Cuando se aleja
Para quitarle la luz y la voz
Mi pueblo espera
Cuando tu te pares a mirar la vida
En el vertice justo del tiempo y la luz
Veras la grandeza del hombre y su dia
Su camino nuevo, su cancion azul
Quiero brotar en la espiga
De la conciencia
Del hombre nuevo que lucha
Por su mañana
Y proclamar su tiempo azul de pie
Dando la cara

Senhor fazei-me um instrumento de vossa paz.

Mercedes Sosa. Presente

Nossa homenagem a Mercedes Sosa. Viva a América Latina. Libre

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

domingo, 27 de setembro de 2009

Ouvir estrelas, amar e mudar as coisas.

Ouvir Estrelas

Ora ( direis ) ouvir estrelas!
Certo, perdeste o senso!
E eu vos direi, no entanto
Que, para ouví-las,
muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem,
quando estão contigo? "

E eu vos direi:
"Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas

Olavo Bilac

Sensibilidade e romantismo a flor da pele. Tortura de amor.

Ney. Extraordinário. Mal necessário

Petrúcio e Climério imortalizados na voz de Raimundo Fagner. Conflito

Conflito
Petrúcio Maia/Climério


Ah, meu coração que não entende
O compasso do meu pensamento
E o pensamento se protege
E o coração se entrega inteiro e sem razão
Se o pensamento foge dela o coração a busca aflito
E o corpo todo sai tremendo, massacrado e ferido no conflito

O Pré-Sal é Nosso.



Foto: Ricardo Stucker

Essa é demais. Pink Floyd. Wish You Were Here

Que maravilha. Fausto Nilo. Poesia em forma de música.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Estado mínimo é uma tese falida, afirma Dilma em entrevista

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, edição de domingo (20), a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) afirmou que o Estado mínimo é uma “tese falida”, que “só os tupiniquins” aplicam. Em sua opinião, quem defendia que o mercado solucionava tudo “está contra a corrente” e “contra a realidade”.
Ainda na entrevista, Dilma sai em defesa do presidente Lula diante das críticas de que ele adotou uma política “intervencionista e estatizante”. “Os empresários podem falar o que quiserem, que é democrático. O presidente da República não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista. Diríamos assim, não é justo”, protestou Dilma.

Leia a íntegra da entrevista:

FOLHA - O ex-presidente FHC disse que é preciso fazer um país mais aberto, não ter uma pessoa só que manda, porque hoje parece que o Brasil depende de um homem só. O que a sra. acha?
DILMA ROUSSEFF - A quem ele está se referindo?

FOLHA - Ao presidente Lula.
DILMA - Se você acha isso, eu não tenho certeza. Se tem um presidente democrático, é o presidente Lula. Agora, ele jamais abrirá mão de suas obrigações. Entre as obrigações está mandar algumas coisas. Por exemplo, fazer o Bolsa Família. Ele mandou que não fizéssemos aventura nenhuma com a taxa de inflação.

FOLHA - A declaração de FHC embute a análise de que no governo Lula houve uma maior intervenção na economia, nas estatais, na vida das empresas.
DILMA - Tinha gente torcendo para ficarmos de braços cruzados na crise. Diziam: “o governo Lula sempre deu certo, mas nunca enfrentou uma crise internacional”. Apareceu a maior crise dos últimos tempos, que estamos superando. Eu acho que quem defendia que o mercado solucionava tudo, o mercado provê, é capaz de legislar e garantir, está contra a corrente e contra a realidade. O que se viu no mundo nos últimos tempos é que a tese do Estado mínimo é uma tese falida, ninguém aplica, só os tupiniquins. Nós somos extremamente a favor do Estado que induz o crescimento, o desenvolvimento, que planeja.

FOLHA - Pela declaração do ex-presidente, a sra. avalia que eles não teriam seguido a mesma receita de vocês nessa crise?
DILMA - Eu não gosto de polemizar com um presidente, porque ele tem outro patamar. Agora, os que apostam e ficam numa discussão, que, além de enfadonha, é estéril, de que há uma oposição entre iniciativa privada e governo, gostam de discussão fundamentalista. É primário ficar nessa discussão de que o governo, para não ser chamado de intervencionista, seja um governo omisso, de braços cruzados, que não se interessa por resolver as questões da pobreza nem do desenvolvimento econômico.

FOLHA - Essa maior interferência do governo não levou a uma visão estatizante da economia e a um discurso eleitoreiro, como no pré-sal?
DILMA - As acusações são eleitoreiro, estatizante, intervencionista e nacionalista. Tem algumas que a gente aceita. Nacionalista a gente aceita. Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota. Eu não vi um americano ter vergonha de ser patriota, nunca vi um francês. Que história é essa de nacionalista ser xingamento?

FOLHA - Nacionalista vocês aceitam. E estatizante?
DILMA - Se é o aumento da capacidade de planejar o país, de ter parcerias com o setor privado, de o Estado ter se tornado o indutor do desenvolvimento, concordo.

FOLHA - Intervencionista?
DILMA - Não somos.

FOLHA - Mas eleitoreiro?
DILMA - Não. Sabemos que quem não tem projeto vai achar tudo eleitoreiro.

FOLHA - Quando o presidente pressiona um dirigente de empresa privada, como Roger Agnelli, da Vale, não é uma ingerência indevida?
DILMA - Você acha certo exportar minério de ferro e importar produtos siderúrgicos? Ela é uma empresa privada delicada. Porque ela está explorando recursos naturais do Brasil. Você não pode sair por aí explorando os recursos naturais e não devolver nada. O presidente ficou chocado com empresas que demitiram bastante na crise sem ter consideração pelos empregos do país.

FOLHA - Isso representa prejuízo para uma empresa privada.
DILMA - Não se trata de prejuízo, se trata do tamanho do lucro, a mesma coisa da Petrobras. O que vale para a Petrobras vale para a Vale. A preocupação com a riqueza nacional é uma obrigação do governo. Eu não acho que o presidente foi lá interferir na Vale. O presidente manifestou, assim como muitas vezes os empresários manifestam, seu descontentamento, e não implica uma interferência, a gente tem de democraticamente aceitar as observações, ser capaz inclusive de aprender com críticas. Por que o presidente não pode falar?

FOLHA - A sra. acha que uma empresa privada tem de abrir mão de uma parte do lucro…
DILMA - Não estou discutindo isso. Estou discutindo é que ela, assim como a Petrobras, nem sempre pode. Se a Petrobras quiser o lucro dela só, vai fazer uma coisa monotônica.

FOLHA - O presidente pensou em tirar o Agnelli da Vale?
DILMA - Que eu saiba não. Ele não tem poder para isso. Como você disse, é uma empresa privada. O que ele fez foi externar seu descontentamento com a forma que demitiram gente. Ele não fez só para a Vale. Eu acho interessante essa história, os empresários podem falar o que quiserem que é democrático, o presidente não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista. Isso, diríamos assim, não é justo.

FOLHA - Durante o governo houve um grande processo de fusões de empresas no Brasil. Deu-se por um estímulo direto do governo Lula?
DILMA - São sinais dos tempos. Não tem nada de artificial. Ninguém falou “eu vou ali criar uma empresa fortíssima”. As empresas estavam maduras. As que não se fundiram aqui compraram coisas lá fora.

FOLHA - A sra. defende um Banco Central independente, por lei?
DILMA - Não acho que seja necessário isso. Não vejo nenhum motivo para criar esse tipo de problema agora no Brasil, abrir esse tipo de discussão.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Entrevista do Lula ao Valor Econômico.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende mandar ao Congresso ainda este ano um projeto de lei para consolidar as políticas sociais de seu governo. A ideia é amarrar no texto da lei uma “Consolidação das Leis Sociais”, a exemplo do que, na década de 50, Getúlio Vargas fez com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Diz que, para este projeto, não vai pedir urgência. “É bom mesmo que seja discutido no ano eleitoral”.

Faz parte dos planos do presidente também para este ano encaminhar ao Congresso um projeto de inclusão digital. “Será para integrar o país todinho com fibras óticas”, adiantou.

Na primeira entrevista concedida após a grande crise global, Lula criticou as empresas que, por medo ou incertezas, se precipitaram tomando medidas desnecessárias e defendeu a ação do Estado. “Quem sustentou essa crise foi o governo e o povo pobre, porque alguns setores empresariais brasileiros pisaram no breque de forma desnecessária”.

Ele explicou porque está insatisfeito especialmente com a Vale do Rio Doce, a quem tem pressionado a agregar valor à extração de minério, construir usinas siderúrgicas e fazer suas encomendas dentro do país, em vez de recorrer à importação, como tem feito. “A Vale não pode ficar se dando ao luxo de ficar exportando apenas minério de ferro”, diz ele. Hoje, disse, os chineses já produzem 535 milhões de toneladas de aço por ano, enquanto o Brasil, o maior produtor de minério do mundo, produz apenas 35 milhões de toneladas. “Isso não faz nenhum sentido.”

O presidente defendeu a expansão de gastos promovida por seu governo, alegando que o Estado forte ajudou o país a enfrentar a recente crise econômica. “A gente não deveria ficar preocupado em saber quanto o Estado gasta. Deveria ficar preocupado em saber se o Estado está cumprindo com suas funções de bem tratar a população.”




Rechaçou a eventualidade do “risco Serra”, aludido por algumas autoridades de seu governo face às veementes críticas do governador de São Paulo, José Serra (PSDB) à política monetária. “É uma cretinice política. É tão sério governar um país da magnitude do Brasil que ninguém que entre aqui vai se meter a fazer bobagem, vai ser bobo de mexer na estabilidade econômica e permitir que a inflação volte”.

A falta de carisma da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, provável candidata à sua sucessão em 2010 não é , para ele, um obstáculo eleitoral. “Se dependesse de carisma, Fernando Henrique Cardoso não teria sido eleito e Serra não seria nem candidato. Jânio Quadros tinha carisma e ficou só seis meses”. O principal ativo de Dilma, na opinião de Lula, é a “capacidade gerencial” da ministra. “E mulher tem que ser dura mesmo, para se impor entre os homens.”

Lula contou que já desaconselhou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a se candidatar ao governo de Goiás. “Eu já disse pro Meirelles. Eu sinceramente acho que o Meirelles não devia pensar em ser candidato a governador, coisa nenhuma. Mas esse negócio tem um comichão…”

O risco de os esqueletos deixados por planos de estabilização de governos passados se transformarem em pesado fardo para o Tesouro Nacional preocupa o presidente. Segundo ele, se o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitar as ações contra bancos baseadas em supostos prejuízos causados por planos econômicos, uma conta que supera os R$ 100 bilhões, os bancos vão acionar judicialmente a União para bancar que ela banque essa despesa.

Na entrevista ao Valor, concedida na manhã de ontem em seu gabinete no Centro Cultural do Banco do Brasil, o presidente falou por uma hora e meia. Fumou cigarrilha na última meia hora da entrevista e não se recusou a falar de seu futuro político quando deixar a Presidência. “Gostaria de usar o que aprendi na Presidência para ajudar tanto a América Latina quanto a África a implementar políticas sociais, mas primeiro preciso saber se eles querem, porque de palpiteiro todo mundo está cansado”. Sobre uma nova candidatura em 2014, o presidente foi direto: “Se Dilma for eleita, ela tem todo direito de chegar em 2014 e falar ‘eu quero a reeleição’. Se isso não acontecer, obviamente a história política pode ter outro rumo”.

Valor: Passado um ano da grande crise global, a economia brasileira começa a se recuperar. Além do pré-sal, qual a agenda do governo para o pós crise?

Luiz Inácio Lula da Silva: Ainda este ano vou apresentar uma proposta sobre inclusão digital. E, também, uma proposta consolidando todas as políticas sociais do governo.

Valor: Inclusive, o Bolsa Família, o salário mínimo?

Lula: Todas. Vai ter uma lei que vai legalizar tudo, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Será uma consolidação das políticas públicas para sustentar os avanços conquistados. Tudo o que foi feito, até as conferências nacionais, porque nós só temos legalizada a da saúde.

Valor: Mas o governo ainda não conseguiu sequer aprovar a política de valorização do salário mínimo?

Lula: A culpa não é minha. Mandei (para o Congresso) já faz um ano e meio. Sou de um tempo de dirigente sindical que, quando a gente falava de salário mínimo, as pessoas já falavam logo de inflação. Nós demos, desde que cheguei aqui, 67% de aumento real para o salário mínimo e ninguém mais fala de inflação. O projeto que nós mandamos é uma coisa bonita. É a reposição da inflação mais o aumento do PIB de dois anos atrás. Quero consolidar isso porque acho que o Brasil tem que mudar de patamar.

Valor: O senhor vai pedir urgência?

Lula: Não. É ótimo que dê debate no ano eleitoral. Quando eu voltar de viagem, vou ter uma reunião com todos os ministros da área social e vamos começar a trabalhar nisso.

Valor: E a inclusão digital?

Lula: Esta eu quero mandar também este ano. Será para integrar o país com fibras óticas. O Brasil precisa disso. Eu dei 45 dias de prazo, ontem, para que me apresentem o projeto de integração de todo o sistema ótico do Brasil.

Valor: O que mais será feito?

Lula: Uma proposta de um novo PAC para 2011-2015, que anunciarei em janeiro ou fevereiro. Porque precisamos colocar, no Orçamento de 2011, dinheiro para a Copa do Mundo, sobretudo na questão de mobilização urbana. E, se a gente ganhar a sede das Olimpíadas, já tem que ter uma coisa mais poderosa nisso.

Valor: Só para a parte que lhe cabe no pré-sal, o BNDES diz que vai precisar de uma capitalização de R$ 100 bilhões do Tesouro Nacional. O senhor já autorizou a operação?

Lula: Acabamos de dar R$ 100 bilhões ao BNDES e nem utilizamos ainda todo esse dinheiro. Para nós, o pré-sal começa ontem. Na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, pedi aos empresários que constituíssem um grupo de trabalho para que possamos ter dimensão do que vamos precisar nos próximos 15 anos entre infraestrutura, equipamentos para construção de sondas, plataformas, toda a cadeia. Não podemos deixar tudo para a última hora e isso vai exigir muito dinheiro. Esse problema do BNDES ainda não chegou aqui, mas posso garantir que não faltará dinheiro para o pré-sal.

Valor: O governo pensa numa política industrial para o pré-sal, voltada para as grandes empresas nacionais. Fala-se em ter empresas “campeãs nacionais”. Isso vai renovar o parque industrial e as lideranças empresariais do país?

Lula: Certamente aumentará muito o setor empresarial brasileiro. Precisamos aproveitar o pré-sal e criar, também, um grande polo petroquímico. Não podemos ficar no sexto, sétimo lugar nesse setor. Pedi para o Luciano Coutinho (presidente do BNDES) coordenar um grupo de trabalho para que a gente possa anunciar em breve um plano de fomento à indústria petroquímica no Brasil. E pedi para os empresários brasileiros se prepararem para coisas maiores. Vamos precisar de mais estaleiros, diques secos, e isso tem que começar agora para estar pronto em três a quatro anos. Sobretudo, temos que convencer os empresários estrangeiros a investir no Brasil, construindo parcerias.

Valor: É por essa razão que o senhor está irritado com a Vale?

Lula: Não estou irritado com a Vale. Tenho cobrado sistematicamente da Vale a construção de usinas siderúrgicas no país. Todo mundo sabe o que a Vale representa para o Brasil. É uma empresa excepcional, mas não pode se dar ao luxo de exportar apenas minério de ferro. Os chineses já estão produzindo 535 milhões de toneladas de aço e nós continuamos com 35 milhões de toneladas. Daqui a pouco vamos ter que importar aço da China. Isso não faz nenhum sentido. Quando a gente vende minério de ferro, custa um tiquinho.

Valor: E não paga imposto porque o produto não é industrializado…

Lula: Não paga imposto. Tudo isso eu tenho discutido muito com a Vale porque eu a respeito. Quando ela contrata navios de 400 mil toneladas na China, é de se perguntar: ´e o esforço imenso que estou fazendo para recuperar a indústria naval brasileira?´

Valor: Mas a Vale não é uma empresa privada?

Lula: Pode ser privada ou pública. O interesse do país está em primeiro lugar. As empresas privadas têm tantas obrigações com o país como eu tenho. Não é porque sou presidente que só eu tenho responsabilidade. Se quisermos construir uma indústria competitiva no mundo, vamos ter que fortalecer o país.

Valor: Os custos não são importantes?

Lula: Os empresários têm tanta obrigação de ser brasileiros e nacionalistas quanto eu! Estou fazendo uma discussão com a Vale, já fiz com outras empresas, porque quando queremos importar aço da China, os empresários brasileiros não querem. Mas quando eles aumentam seus preços, eu sou obrigado a reduzir a alíquota (de importação) para poder equilibrar. Eu sei a importância das empresas brasileiras, ninguém mais do que eu brigou neste país para elas virarem multinacionais. Porque, cada vez que uma empresa se torna uma multinacional, ela é uma bandeira do país fincada em outro país.

Valor: As empresas não importam porque lá fora é mais barato e tecnologicamente mais avançado?

Lula: Não sei se tecnologicamente é mais avançado. Pode ser mais barato. Quando começamos a discutir com a Petrobras a construção de plataformas, ela falava ´nós economizamos não sei quantos milhões´. Eu falava ´tudo bem, e os desempregados brasileiros? E o avanço tecnológico do país? E a possibilidade de fazemos plataformas aqui e exportar?´ Em vez de apenas importar, vamos convencer as empresas de fora que nós temos demanda e que elas venham construir no Brasil. Não estamos pedindo favor. Talvez o Brasil seja, daqui para a frente, o país a consumir mais implementos para a construção de sondas e plataformas.

Valor: O governo pensa em reduzir os custos de produção no Brasil?

Lula: Temos, no momento, uma crise econômica em que o custo financeiro subiu no mundo inteiro. Desde que entrei, e considerando a extinção da CPMF, foram mais de R$ 100 bilhões em desonerações. Eu já mandei duas reformas tributárias ao Congresso. As duas tiveram a concordância dos 27 governadores e dos empresários. Mas as propostas chegam no Senado e, como diria o Jânio Quadros, tem o ´inimigo oculto´ que não deixa que sejam aprovadas.

Valor: Como o senhor vê o papel do Estado pós crise?

Lula: O Estado não pode ser o gerenciador, o administrador. O Estado tem que ter apenas o papel de indutor e fiscalizador. Então, (o Estado) leva uma refinaria para o Ceará, um estaleiro para Pernambuco. Se dependesse da Petrobras, ela não gostaria de fazer refinarias.

Valor: Por que há ociosidade?

Lula: Na lógica da Petrobras, as suas refinarias já atendem a demanda. Há 20 anos a empresa não fazia uma nova refinaria. Agora, o que significa uma nova refinaria num Estado? A primeira coisa que vai ter é um polo petroquímico para aquela região. Este é o papel do governo. O governo não pode se omitir. A fragilidade dos governantes, hoje, é que eles acreditaram nos últimos dez anos que os mercados resolviam os problemas. E agora, quando chegou a crise, todos perceberam que, se os Estados não fizessem o que fizeram, a crise seria mais profunda. Se o Bush (George, ex-presidente dos Estados Unidos) tivesse a dimensão da crise e tivesse colocado US$ 60 bilhões no Lehman Brothers antes de ele quebrar, possivelmente não teríamos a crise de crédito que tivemos. Então, a Vale entra nessa minha lógica.

Valor: Depois da conversa com o senhor, a Vale vai construir as siderúrgicas?

Lula: Ela precisa agregar valor às suas exportações. Se ela exportar uma tonelada de bauxita, vai receber entre US$ 30 e US$ 50. Se for um tonelada de alumínio pronto, vai vender por US$ 3 mil. Além disso, vai gerar emprego aqui, vai ter que construir hidrelétrica para ter energia. Não pode ter só o interesse imediato pelo lucro porque a matéria prima um dia acaba e, antes de acabar, temos que ganhar dinheiro com isso. A Vale entende isso.

Valor: Então ela se comprometeu?

Lula: Basta ver a propaganda dela nos jornais. Faz três anos que venho conversando com a Vale. O Estado do Pará reclama o tempo inteiro, Minas Gerais e o Espírito Santo também. A siderúrgica do Ceará não foi proposta por mim. Foi proposta em 1992. Há condições de fazer? Há. Há mercado? Há. Temos tecnologia? Temos. Então, vamos fazer.

Valor: Entre reduzir a carga tributária, desonerando a folha de pagamentos das empresas, e aumentar o salário do funcionalismo, o senhor ficou com a segunda opção. Por quê?

Lula: Primeiro porque a desoneração é baseada no nervosismo econômico, no aperto de determinado segmento. O Estado tem que ter força. No Brasil, durante os anos 80, se criou a ideia de Estado mínimo. O Estado mínimo não vale para nada. O Estado tem que ter força para fazer as políticas que fizemos agora, na crise, com a compreensão do Congresso. Não pense que foi fácil tomar a decisão de fazer o Banco do Brasil (BB) comprar a Nossa Caixa em São Paulo.

Valor: Por quê?

Lula: As pessoas diziam: ´Ah, o presidente vai dar dinheiro ao Serra e o Serra é candidato´. Mas não dei dinheiro para o Serra. Comprei um banco que tinha caixa e para permitir que o BB tivesse mais capacidade de alavancar o crédito. Quando fui comprar (via BB) 50% do Banco Votorantim, tive que me lixar para a especulação. Nós precisávamos financiar o mercado de carro usado e o Banco do Brasil não tinha ´expertise´. Então, compramos 50% do Votorantim, que tem uma carteira de carro usado de R$ 90 bilhões. Vocês têm dimensão do que foi ter uma Caixa Econômica Federal, um BNDES ou um BB na crise? Foi extremamente importante. A Petrobras apresentou estudo mostrando que deveria adiar o cronograma dos investimentos dela de 2013 para 2017.

Valor: Durante a crise?

Lula: É. Convoquei o Conselho da Petrobras para dizer: ´Olha, este é um momento em que não se pode recuar´. Até no futebol a gente aprende que, quando se está ganhando de 1 x 0 e recua, a gente se ferra.

Valor: E funcionou?

Lula: Quem sustentou essa crise foi o governo e o povo pobre, porque alguns setores empresariais brasileiros pisaram no breque de forma desnecessária. Aquele famoso cavalo de pau que o (Antonio) Palocci (ex-ministro da Fazenda) dizia que a gente não podia dar na economia, alguns setores empresariais deram por puro medo, incerteza. Essas coisas nós conversamos muito com os empresários, no comitê acompanhamento da crise. Agora não vai ter mais comitê de crise, mas sim de produção, investimento e inovação tecnológica. Estou otimista porque este é o momento do Brasil.

Valor: Por exemplo?

Lula: As pessoas estão compreendendo que fazer com que o pobre seja menos pobre é bom para a economia. Ele vira consumidor. Eles vão para o shopping e compram coisas que até pouco tempo só a classe média tinha acesso. Os empresários brasileiros precisam se modernizar.

Valor: A política de valorização do funcionalismo dificilmente poderá ser mantida por seu sucessor e nenhum dos candidatos tem ascendência sobre o movimento sindical que o senhor tem. Não é uma bomba relógio que o senhor deixa armada para o próximo governo?

Lula: Vocês acham que o Estado brasileiro paga bem?

Valor: O senhor acha que ainda ganha mal?

Lula: Você tem que medir o valor de determinadas funções no mercado e dentro do governo. Sempre achei que o pessoal da Petrobras ganhava muito. O Rodolfo Landim, quando era presidente da BR, há uns quatro anos, ganhava R$ 26 mil. Ele entrou na minha sala e disse: ´Presidente, tive convite de um empresário, estou de coração partido, mas não posso perder a oportunidade da minha vida´. Então, ele deixa de ganhar R$ 26 mil por mês e vai ganhar R$ 200 mil com dois anos de pagamento adiantado. Quanto vale um bom funcionário da Receita Federal, do Banco Central, no mercado? O que garante as pessoas ficarem no Estado é a estabilidade, não o salário.

Valor: Mas essa política de valorização salarial do funcionalismo é sustentável?

Lula: Como é que a gente vai deixar de contratar professores? Vou passar à história como o presidente que mais fez universidades neste país. Ontem, completamos a 11ª (das quais, duas foram iniciativa do governo anterior). Ganhamos do Juscelino Kubitschek, que fez dez. Teve governo que não fez nenhuma. E ainda há três no Congresso para serem aprovadas.

Valor: O senhor considera que o Estado hoje está arrumado?

Lula: A gente não deveria ficar preocupado em saber quanto o Estado gasta. Deveria ficar preocupado em saber se o Estado está cumprindo com suas funções de bem tratar a população. E ainda falta muito para chegar à perfeição.

Valor: O senhor foi vítima em 2002 do chamado “risco Lula”. Hoje, já há quem fale em “risco Serra”. Existe mais risco para o país com o Serra do que com a Dilma?

Lula: Nunca ouvi falar de ´risco Serra´ (risos). Posso falar de cátedra. Sofri com o ´risco Lula´ desde 1989. Em 1994, eu tinha 43% nas pesquisas em março e o que eles fizeram? Diminuíram o mandato para quatro anos e proibiram mostrar imagem externa no programa eleitoral. As pessoas pensam que esqueci isso. Quando chegaram as eleições para a prefeitura (em 1996), revogou-se a lei e todo mundo pôde mostrar imagens externas. Quando eles ganharam, aprovaram a reeleição. Então, essa coisa de ´risco Lula´ eu conheço bem.

Valor: É possível voltar a acorrer?

Lula: Espero que minha vitória e meu governo sirvam de lição para essas pessoas que ficam dizendo: ´o Lula era risco, agora o Serra é risco, a Dilma é risco, a Marina é risco, o Aécio é risco´. É uma cretinice política! Porque é tão sério governar um país da magnitude do Brasil que ninguém que entre aqui vai se meter a fazer bobagem. Quem fez bobagem não ficou. Todo mundo sabe da minha afinidade com os trabalhadores, da minha preferência pelos mais pobres. Entretanto, sou governante dos ricos também. E tenho certeza de que eles estão muito satisfeitos porque ganharam muito dinheiro no meu governo. Mais do que no governo ´deles´. Como pode um companheiro como a Dilma, o Serra, a Marina, todos que têm história, ficar sujeito a essa história de risco? E sabe por que não tem risco? Porque, se depois fizer bobagem, paga. Você pode ter visão diferente sobre as coisas, isso é normal. E agora mais ainda porque quem vier depois de mim.

Valor: Por quê?

Lula: Porque há um outro paradigma. Em cem anos a elite brasileira fez 140 escolas técnicas. Como é que esse torneiro mecânico faz 114? Estamos criando um paradigma. Fui ao Rio Maranguapinho (no Ceará) um dia desses. Estamos colocando lá R$ 390 milhões para fazer saneamento básico. Em Roraima são R$ 496 milhões para fazer saneamento e dragagem. Você sabe quanto o Brasil inteiro gastou em 2002 em saneamento?

Valor: Quanto?

Lula: R$ 262 milhões. Então, estamos colocando num bairro de Fortaleza o que foi colocado no Brasil inteiro naquele ano.

Valor: O senhor diria que pelo menos nos três fundamentos básicos da economia – superávit primário, câmbio flutuante e regime de metas – ninguém vai mexer porque foram testados na crise?

Lula: Para mim, inflação controlada é condição básica para o resto dar certo. Porque na hora que a inflação começar a crescer, os trabalhadores vão querer muito mais reajuste, os empresários também e a coisa desanda. Então, é manter a inflação controlada, a economia crescendo, permitir o crescimento do crédito. O Banco do Brasil sozinho hoje talvez tenha todo o crédito que o Brasil tinha em 2003.

Valor: Isso é bom ou ruim? Entre os anos 80 e 90, houve péssima gestão nos bancos estaduais, que acabaram quebrando…

Lula: Mas aí a culpa não é do banco. É irresponsabilidade da classe política. Os governantes transformaram os bancos públicos em caixa 2 de campanha. Emprestar dinheiro para amigo? Isso acabou. Não acho que ninguém que entre aqui vai ser bobo de mexer na estabilidade econômica e permitir que volte a inflação. Porque, se isso acontecer, o mandato é de apenas quatro anos.

Valor: A capacidade administrativa da ministra Dilma Rousseff, apesar do seu pouco carisma, e a confiança que o senhor tem em seu trabalho são suficientes para fazer dela uma candidata?

Lula: Quantos políticos têm carisma no Brasil? Se dependesse de carisma, Fernando Henrique Cardoso não teria sido presidente. Se dependesse de carisma, José Serra não poderia nem ser candidato. Carisma é uma coisa inata. Você pode aperfeiçoar ou não. Sempre é bom ter um pouco de carisma. O Jânio Quadros tinha carisma. Ficou só seis meses aqui. Estou dizendo que para governar este país é preciso um conjunto de qualidades. E a primeira qualidade é ganhar eleição. Tem que ter muita humildade, determinação do projeto que vai apresentar. Tem que provar que é capaz de gerenciar. Hoje, com sete anos de convivência, não conheço ninguém que tenha essa capacidade gerencial da Dilma. Às vezes as pessoas falam ´ela é dura´. Mas é que a mulher tem que ser mais dura mesmo.

Valor: Por quê?

Lula: Porque numa discussão política, para você se impor no meio de 30 ou 40 homens, é assim. A Dilma é muito competente. Feliz do país que vai ter uma disputa que pode ter Dilma, Serra, Marina, Heloísa Helena, Aécio. Houve no país um avanço qualitativo nas disputas eleitorais. O Fernando Henrique e eu já fomos um avanço extraordinário. Fico olhando e vejo que não tem um único candidato de direita. Isto é uma conquista extraordinária de um Brasil exuberante. É evidente que Serra tem discordância da Dilma e vice-versa, mas ninguém pode acusar um e outro de que não são democratas e não lutaram por este país.

Valor: Qual é a diferença entre eles?

Lula: Vai ter. Se for para fazer (um governo) igual não tem disputa. E, aí, o povo vai escolher por beleza… Não sei se serão só os dois. Mas são candidatos de qualidade.

Valor: Privatizar ou não privatizar pode ser a diferença?

Lula: Não.

Valor: Por que o senhor é contra a privatização?

Lula: Tudo aquilo que não é de interesse estratégico para o país pode ser privatizado. Agora, tudo o que é estratégico, o Estado pode fazer como fez com a Petrobras e o Banco do Brasil.

Valor: A Infraero é estratégica?

Lula: O Guido (Mantega, ministro da Fazenda) foi determinado a fazer um estudo sobre a Infraero, para ver se ela vira uma empresa de economia mista. O que nos interessa é que as coisas funcionem corretamente. Pedi ao Jobim (Nelson, ministro da Defesa) estudar o processo de concessão de um ou outro aeroporto para gente poder ter um termômetro, medir a qualidade de funcionamento. O que é estratégico no aeroporto é o controle do espaço aéreo e não ficar pegando passaporte de passageiros.

Valor: O senhor, então, não é contra a privatização por princípio?

Lula: Eu sou muito prático. Entre o meu princípio e o bom serviço prestado à população, fico com o bom serviço.

Valor: Quando o senhor falou dos candidatos, não mencionou Ciro Gomes.

Lula: O Ciro é um extraordinário candidato. De qualquer forma o PSB tem autonomia para lançar o Ciro candidato.

Valor: O senhor é o presidente mais popular da história do Brasil. No entanto, este Congresso é um dos mais desmoralizados. Por que o PT fracassou na condução do Congresso?

Lula: Você há de convir que a democracia no Brasil funciona com muito mais dinamismo que em qualquer outro lugar do mundo. O PT elegeu 81 deputados em 513 e 12 senadores em 81. A gente precisa dançar mais flamenco do que em qualquer país do mundo. Você vai ter que ter mais jogo de cintura. Exercitar a democracia é convencer as pessoas, é sempre mais difícil.

Valor: Por quê?

Lula: O Congresso é a única instituição julgada coletivamente. Se não teve sessão você fala: ´Deputado vagabundo que não trabalha´. Agora, nunca cita os que estiveram lá, de plantão, o tempo inteiro. Quando era constituinte, eu ficava doido porque ficava trabalhando até as duas, três horas da manhã. O Ulysses (Guimarães) ficava uma semana sem votar. Quando ele começava a votar, aquilo varava a noite. No dia seguinte, pegava o jornal, que dizia ´sessão não deu quórum porque os deputados não foram trabalhar´. Mas havia lá 200 em pé. Toda vez que vou a debates com estudantes, em inauguração de escolas, eu falo isso: ´Se vocês não gostam de política, acham que todo político é ladrão, que não presta, não renunciem à política. Entrem vocês na política porque, quem sabe, o perfeito que vocês querem está dentro de vocês´.

Valor: O senhor disse que o Brasil deve comemorar o fato de não ter candidatos de direita na eleição presidencial. Por que depois de tantas tentativas de aproximar PT e PSDB, isso não deu certo?

Lula: Porque na verdade nós somos os principais adversários.
Valor: Em São Paulo?

Lula: Em São Paulo e em outros lugares. Há uma disputa.

Valor: A aliança PT-PSDB é impossível?

Lula: Acho que agora é impossível.

Valor: Como o senhor avalia sua relação com a oposição, sobretudo no momento em que se discute o marco regulatório do pré-sal?

Lula: Essa oposição teve menos canal com o governo. Certamente o DEM e o PSDB pouco tiveram o que construir com o governo. Possivelmente quando eles eram governo, o PT também construiu poucas possibilidades. O projeto do pré-sal tal, como ele foi mandado, não é uma coisa minha. O trabalho que fizemos foi, sem falsa modéstia, digno de respeito, tanto é que o Serra concorda com o modelo. O Congresso tem liberdade para mudar.

Valor: A oposição diz que o governo pediu urgência para usar o projeto de forma eleitoreira. A urgência era exatamente por quê?

Lula: Porque precisamos aprovar o mais rápido possível para dizer ao mundo o que está aprovado e começar a trabalhar. Acho engraçado a oposição dizer isso. A oposição votou em seis meses cinco emendas constitucionais no governo Fernando Henrique Cardoso.

Valor: O senhor volta com o pedido de urgência, se for o caso?

Lula: Depende. Atendi ao pedido do presidente da Câmara, Michel Temer. Vamos votar no dia 10 de novembro. Isso me garante. Termino o mandato daqui a um ano. Serei ex-presidente, nem vento bate nas costas. Não é para mim que estou fazendo o pré-sal. O pré-sal é para o país.

Valor: O que o senhor pretende fazer depois que deixar o governo?

Lula: Não sei. A única coisa que tenho convicção é que não vou importunar quem for eleito.

Valor: Todo mundo tem medo que o senhor volte em 2014…

Lula: Medo? Acho que deveria ter alegria, se eu voltasse. Na política a gente tem de ter sempre o bom senso. Vamos supor que a Dilma seja eleita presidente da República…

Valor: E se ela perder a eleição? O senhor vai se sentir pressionado pelo PT a disputar em 2014?

Lula: Vou trabalhar para o povo votar favoravelmente, mas, se votar contra, vou ter o mesmo respeito que tenho pelo povo. Se ela for eleita, tem todo o direito de chegar a 2014 e falar ´eu quero a reeleição´.

Valor: E se ela não for eleita?

Lula: Não trabalho com essa hipótese, mas obviamente que, se não acontecer o que eu penso que deve acontecer, a história política pode ter outro rumo.

Valor: Parece que está consolidada a percepção de que o país terá câmbio apreciado por um bom tempo. O senhor teme uma desindustrialização?

Lula: O nosso objetivo é industrializar o máximo possível. O Palocci disse uma frase que é simples e antológica: ´o problema do câmbio flutuante é que ele flutua´. Obviamente que nós já estamos discutindo isso. Trabalhamos com a hipótese de que vai entrar muito dólar no Brasil. Precisamos trabalhar isso com carinho. Em contrapartida, também estamos avançando na questão de fazer trocas comerciais nas moedas dos países. Não preciso do dólar para fazer comércio com a China, a Índia, a Rússia. Podemos fazer comércio com nossas moedas e com as garantias dos bancos centrais. Esta é uma coisa nova que já começamos a discutir. Na última reunião dos Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China), foi constituído um grupo de trabalho para pensar sobre isso. Não é possível você tratar da economia com teoricismo, de que você acha que hoje pode tomar uma decisão para evitar que alguma coisa aconteça daqui a dez anos. Esta crise econômica mundial mostrou isso. Hoje é unanimidade mundial que o Brasil é o país mais preparado para enfrentar isso. Nunca tivemos nenhum plano econômico. Cada vez que tinha uma crise vinha um e apresentava um plano. Quebrava. Os bancos hoje estão sendo processados no Supremo Tribunal Federal (STF) por uma dívida de mais de R$ 150 bilhões, por causa dos planos Bresser e Verão.

Valor: Os bancos pediram ajuda ao governo?

Lula: Não é que o governo vai ajudar. O governo é o responsável. O governo fez a lei. Eles cumpriram a lei. Se eles perderem no STF, sabe o que vai acontecer?

Valor: A conta vai para o Tesouro.

Lula: Eles vão acionar a União. Obviamente que é isso. E quem fez os planos está dando palpites nas economias. Este é o dado. Também peço a Deus que eu não deixe nenhum esqueleto para meus sucessores. Por isso, estou mais tranquilo para tomar as decisões, mais meticuloso, para fazer as coisas. Eu fico imaginado, quando eu não estiver mais aqui dentro, o que é que um ex-presidente pode esperar do país. Que um venha e faça mais do que ele. Porque isso é o que vai fazer o país ir para a frente. Somente uma figura medíocre é capaz de torcer para o cara não dar certo. Porque, quando não dá certo, eu não vi nenhum político ter prejuízo. Ele pode perder a eleição, mas não tem prejuízo. Agora, o povo pobre é que paga a conta, se a política não der certo.

Valor: Qual vai ser o discurso da sua candidata?

Lula: Vamos deixar a candidata construir. Mas eu acho o seguinte: o que eram as campanhas passadas? Quem vai controlar a inflação, o salário mínimo de US$ 100, não era isso? Isso acabou. Não se fala mais em FMI, não se fala mais em salário mínimo de US$ 100, não se fala mais em inflação.

Valor: Mas no FMI o senhor vai falar?

Lula: Vou falar porque agora somos credores do FMI.

Valor: A França se tornou nosso parceiro prioritário em detrimento dos EUA?

Lula: Não sei porque não pensaram nisso antes. A França é o único país europeu que faz fronteira com o Brasil. São 700 quilômetros de fronteira. Isso é uma vantagem comparativa da relação com a França. Nós sempre teremos uma excelente relação com o EUA. Sempre teremos uma belíssima relação com a Europa. Mas isso não atrapalha que nós tenhamos relações bilaterais estratégicas com outros países. Acho que os Estados Unidos precisam ter um olhar para a América Latina mais produtivo, mais desenvolvimentista.

Valor: O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vai sair para se candidatar ao governo de Goiás?

Lula: Sinceramente, o Meirelles não devia pensar em ser candidato a governador, coisa nenhuma. É que esse negócio (fazer política) tem um comichão…