segunda-feira, 9 de novembro de 2009

102 anos de Valdemar Caracas.














Repito o texto que escrevi (publicadao no jornal O Povo e no site oficial do Ferroviário em 2007) pela ocasião das comemorações dos 100 anos de Valdemar Caracas. Nos 102 anos do velho Caracol nada mas justo que relembrarmos essa singela mas profunda homenagem.

Valdemar Caracas uma lenda viva

Não podemos chamar a chegada de nenhum ser humano aos cento e dois anos meramente de aniversário. É reduzir demais essa magnífica vitória alcançada por poucos sobre o impiedoso tempo. Não é fácil chegar a essa marca. São cento e dois anos, cento e dois carnavais, cento e dois janeiros, cento e dois novembros. É obvio que as marcas indeléveis do passar dos anos aparecem inevitavelmente, às vezes de forma muito dura. Na maioria das vezes, passamos a não enxergar mais tão bem, a audição a não funcionar como antes e o andar já não é tão lépido como em outros tempos.

Não podemos negar, no entanto que, se o feito por si só já é um grande acontecimento, imagine atingir essa magnânima marca em forma? Isso mesmo, em forma! Mesmo sem os olhos e ouvidos não terem a perfeição de antes, ouvir e enxergar como nunca, por se fazer isso com o coração. Falar com firmeza, porque a voz que vem da alma, marcada pela experiência de tão longeva caminhada dedicada ao trabalho e as paixões, a faz soar como um libelo de exaltação a vida.

Tudo isso agregado a uma lucidez de impressionar e a uma memória de fazer inveja a muita gente na flor da idade, fazem de um homem uma lenda e, o mais interessante: uma lenda viva, vivíssima.

Alguns feitos falam por si. A lenda da qual nos referimos dentre outras peripecias é só, e simplesmente, o fundador do mais simpático time do nosso futebol (ninguém de sã consciência é capaz de contrariar essa afirmação). Aqui, não vou negar, a paixão é comum. O Ferroviário é filho do seu Caracas, que com seus colegas operários ofereceram a humanidade não um time de futebol, mas uma oportunidade rara de sermos felizes em tempos tão cheios de desamor e violência. E não me refiro ao mero e aqui menos importante ganhar ou perder. Aliás, já faz tempo que o Ferrim (ou Ferrão) não ganha nada mesmo. Portanto, não entremos nessa seara. Estamos falando é de paixão!

Não bastando a proeza, o nosso secular cidadão foi também o primeiro treinador a ganhar um titulo estadual para o time da Estrada de Ferro. O Caracol (outra alcunha do centenário homenageado) também é o vereador vivo mais antigo de Fortaleza, fundador do Partido Socialista Brasileiro no Ceará, o mais velho aposentado da previdência do Estado, ex sub-prefeito de Parangaba, primeiro cronista esportivo do Ceará, esposo apaixonado por sua saudosa Anete (in memorian), grande amigo, pai, avô, bisavô, dedicado e carinhoso a todos que privam do seu convívio.

Por tudo dito até aqui, e por muito mais que não cabe neste artigo, rendo as mais profundas homenagens em seus cento e dois anos a Valdemar Cabral Caracas: homem comum que transcendeu o anonimato. Não pelo forjado culto individualista e mercadológico a falsas “lendas” e "mitos" criados a cada instante pela sociedade do consumo; mas por trazer na alma a simplicidade, a coerência e a honestidade tão características da nossa gente, tão bem simbolizadas pela sua história que, para nossa alegria, atravessa mias de um século.

Antonio Carlos de Freitas Souza - Professor, radialista, cronista esportivo (membro da Abrace e Apcdec).

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