quarta-feira, 24 de junho de 2009

Tirem suas conclusões

Embaixador diz que Coréia do Norte se arma para se proteger


A Coréia do Norte não quer ser o Iraque. Foi a vulnerabilidade militar do Iraque e do Afeganistão que permitiu a invasão dos dois países pelos Estados Unidos. A Coréia do Norte, ameaçada por 37 mil soldados estadunidenses estacionados no Sul da Coréia, está desenvolvendo, por seus próprios meios tecnológicos, armas nucleares para se defender. A avaliação foi feita pelo embaixador da Coréia do Norte, PaK Hyok, em reunião realizada pela Cebrapaz, na noite desta segunda-feira (22), em Brasília.



Fala do embaixador (ao centro) colabora com Cebrapaz

“Constatamos que perder a independência é fácil, mas recuperá-la é longo e difícil”, disse em português fluente, acrescentando que “um país pequeno, para enfrentar uma grande potência, não tem como se defender se não estiver devidamente armado.”


Ele admite que o seu país vem fortalecendo a capacidade defensiva como prioridade da política nacional. “Também queremos desenvolver a tecnologia da bomba atômica, porque estão estacionados próximos à Coréia homens e armas nucleares”, disse, destacando que “toda nação tem o direito de se defender.”


Essa nova situação, em que a mídia do mundo ocidental expõe a Coréia do Norte como uma ameaça à paz mundial, foi criada pelo presidente George Bush, que rompeu unilateralmente o acordo. Em 1994, quando o presidente Kim Il Sung morreu e foi sucedido por seu filho, Kim Jong Il, foi assinado acordo entre os dois países. O Governo (Bill) Clinton foi um período de pacificação. Quando Bush assumiu o poder, adotou atitude agressiva e unilateral colocando o país na lista do Eixo do Mal e estigmatizando-o como país terrorista.


“Nessas circunstâncias era preciso fortalecer a nossa capacidade nuclear”, conta o embaixador norte-coreano, estendendo as críticas ao novo presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, que já está há seis meses no poder e não acena com solução para retirada da influência dos Estados Unidos no país. Ele lembra que a reunificação das duas Coréias deve ocorrer sem a interferência externa.


As críticas do embaixador também são dirigidas ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) que condenou o lançamento dos satélites feito pela Coréia. Ele defende um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança para por fim à hegemonia das potências mundiais.


Desigualdade flagrante e grosseira


“Nosso país publicou declaração dizendo que os cinco países do Conselho de Segurança (Estados Unidos, China, Reino Unido, França e Rússia), com o poder de veto, tem os maiores armamentos nucleares do mundo e ninguém pode questioná-los, porque eles podem vetar.” Para Pak Hyok, essa é uma “desigualdade flagrante e grosseira.” Dos 2054 testes nucleares já realizados, 99% foram realizados pelos cinco países.


O embaixador acusa o Conselho de Segurança da ONU de ter cometido dois crimes contra a Coréia do Norte. Em 1950, quando permitiu que vários países enviassem reforço na Guerra da Coréia e agora, aplicando sanções econômicas em represália pelos testes nucleares.


Pak Hyok diz que o seu país não reconhece a decisão do Conselho de Segurança, “que é injusto”, e exige pedido de desculpas pelo que considera interferência em um país independente.


Ele cita várias situações em que o Conselho de Segurança agiu de forma destoante da que assume agora contra a Coréia: outros países lançaram satélites semelhantes e não foram questionados; na Coréia do Sul estão estacionados 37 mil soldados norte-americanos; o Afeganistão e o Iraque foram engolidos pelos Estados Unidos, que não foram condenados, apesar da recriminação da invasão pela ONU. Todas essas situação demonstram que o Conselho de Segurança da ONU usa dois pesos e duas medidas.


Potência socialista


O embaixador norte-coreano disse que no século 21, a situação mudou e a crise econômica dos países capitalistas demonstra que a alternativa é o socialismo. E estimulou à ação concreta e prática, mas do que o discurso de denúncia dessa situação. Elogiou os BRIC (união dos países em desenvolvimento Brasil, Rússia, Índia e China) e o próprio Brasil e enfatizou a necessidade de tomar medidas independentes para conquistar a ordem multipolar. Os elogios foram estendidos ao PCdoB, “que contribui para essa independência do Brasil.”


Sobre a Coréia do Norte, ele disse que “até 2012 vamos construir uma potência socialista, inclusive sob ponto de vista econômico, lembrando que o país tem se desenvolvido com sua própria matéria-prima, tecnologia e mão-de-obra.”


O dirigente do PCdoB, Pedro Oliveira, que visitou o país, disse que a realidade do País desmente as matérias veiculadas na mídia brasileira, citando a revista Veja que mostrou o país como miserável. Ele citou exemplos na área de educação, saúde, meio ambiente, além das questões militares, se manifestando impressionado com a capacidade do povo coreano em todos os sentidos.


O presidente da Cebrapaz no Distrito Federal, Paulo Guimarães, agradeceu a fala do embaixador, destacando que representa importante contribuição para a Assembléia Nacional do Cebrapaz, que acontecerá de 24 de 26 julho, no Rio de Janeiro.


De Brasília
Márcia Xavier

Do site www.vermelho.org.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário