O assassinato do operário transformou-se em bandeira

A maior parte dos estabelecimentos comerciais da área central fecha as portas em sinal de luto. Na periferia, principalmente na zona sul, onde se concentra a maior parte das indústrias, nenhum metalúrgico foi trabalhar.
Nada está certo
O cortejo chega à praça da Sé ao meiodia e 40 minutos. A catedral já está lotada quando entra o caixão com o corpo de Santo Dias. Do lado de fora, milhares de pessoas. Dom Paulo preside a missa de corpo presente. Ele diz: “Não está certo. Quase nada está certo entre nós. Que andem munidos de armas de fogo, os que irão encontrar-se com o povo de braços cruzados. Quase nada está certo, quando milhões que constroem a riqueza de uma cidade apanham porque querem dar pão a seus filhos. Pão, só pão e paz. Quase nada está certo nesta cidade, enquanto houver dois pesos e duas medidas: uma para o patrão e outra para o operário”.
Depois da missa, à uma e meia da tarde, o caixão é colocado num carro funerário, que vai pela avenida 23 de Maio, seguido por incontáveis veículos até o cemitério Campo Grande. Ali, 15.000 pessoas acompanham o enterro há 3 horas. Momentos antes que o caixão baixe à sepultura, Luiz Inácio da Silva, o Lula, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, faz um breve discurso: “Se os patrões pensavam que, com a morte de Santo, os trabalhadores iriam ficar com medo, estamos aqui para mostrar que isso não aconteceu”.
O enterro, as manifestações desse dia se converteram num marco histórico político e sindical.
Texto de Luciana Dias e Jô Azevedo. Extraído da Coleção Rebeldes Brasileiros. São Paulo: Casa Amarela.
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