domingo, 26 de julho de 2009

Manoel Fiel Filho. Presente


Nasceu aos 7 de janeiro de 1927 em Quebrângulo, Estado de Alagoas, filho de Manoel Fiel de Lima e Margarida Maria de Lima.

Operário metalúrgico, casado, tinha filhos.

Foi preso no dia 16 de janeiro de 1976, às 12:00 h, por dois homens que se diziam agentes do DOI-CODI/SP, sob a acusação de pertencer ao (PCB).

Levado para a sede do DOI/CODI, Manoel Fiel foi torturado e, no dia seguinte, acareado com Sebastião de Almeida, preso sob a mesma acusação.

Posteriormente, os órgãos de segurança emitiram nota oficial afirmando que Manoel havia se enforcado em sua cela com as próprias meias, naquele mesmo dia 17, por volta das 13 horas.

Entretanto, segundo os depoimentos dos companheiros de fábrica de Manoel, onde ele foi preso, o calçado que usava eram chinelos, sem meias, contrariando a versão oficial.

As circunstâncias da sua morte são idênticas as de José Ferreira de Almeida, Pedro Jerônimo de Souza e Wladimir Herzog, ocorridas no ano anterior.

O corpo apresentava sinais evidentes de torturas, em especial hematomas generalizados, principalmente na região da testa, pulsos e pescoço.

Um fato claramente demonstrativo da responsabilidade dos órgãos de segurança na morte de Manoel Fiel é o afastamento do Gen. Ednardo D’Ávila Melo, ocorrido três dias após a divulgação da sua morte.

Em ação judicial movida pela família, a União foi responsabilizada pela tortura e assassinato.

O exame necroscópico, solicitado pelo delegado de polícia Orlando D. Jerônimo e assinado pelos médicos legistas José Antônio de Mello e José Henrique da Fonseca, confirma a versão oficial.

Foi enterrado por seus familiares no Cemitério da IV Parada, em São Paulo.

Em documento confidencial encontrado nos arquivos do antigo DOPS/SP seu crime era receber o jornal Voz Operária de Sebastião de Almeida.

Recorte do Jornal da Tarde com carimbo do Setor de Análise do DEOPS, com a Nota do II Exército sobre a morte no DOI, diz:

“O comando do II Exército lamenta informar que foi encontrado morto, às 13:00 hs do dia 17 do corrente, sábado, em um dos xadrezes do DOI/CODI/II Exército, o Sr. Manoel Fiel Filho.

Para apurar o ocorrido, mandou instaurar Inquérito Policial-Militar, tendo sido nomeado o coronel de Infantaria QUEMA (Quadro do Estado Maior da Ativa) Murilo Fernando Alexander, chefe do Estado Maior da 2ª Divisão de Exército.”

Documento datado de 28 de abril de 1976 e assinado por Darcy de Araújo Rebello – Procurador Militar, pede o arquivamento do processo alegando: “As provas apuradas, são suficientes e robustas para nos convencer da hipótese do suicídio de Manoel Fiel Filho, que estava sendo submetido a investigações por crime contra a segurança nacional.”... “Aliás, conclusão que também chegou o ilustre Encarregado do Inquérito Policial Militar”.

O Relatório do Ministério da Aeronáutica mantém a versão oficial.

Depoimento do preso político Antônio d’Albuquerque, em Auditoria Militar, à época, denunciou as torturas sofridas por Fiel Filho, afirmando que foi levado para ver seu cadáver no DOI-CODI/SP junto com outros presos políticos.

Pequena biografia de Manoel Fiel Filho feita pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, por ocasião do lançamento do livro “Manoel Fiel Filho: quem vai pagar por este crime?”, da Editora Escrita, encontrado no antigo arquivo do DEOPS/SP:

“Manoel Fiel, no dia 16 de Janeiro de 1976, havia sido detido ilegalmente às 12:00h por dois policiais que se diziam funcionários da Prefeitura, na fábrica onde trabalhava, a Metal Arte. Puseram-no num carro, foram até sua casa que foi vasculhada por eles. Nada encontraram que pudesse incriminar Fiel Filho.

Diante de sua mulher – Tereza de Lourdes Martins Fiel – levaram-no para o DOI-Codi do II Exército, afirmando que ele voltaria no dia seguinte. Mas ele não voltou.

No dia seguinte, um sábado, às 22:00h, um desconhecido, dirigindo um Dodge Dart, parou em frente à casa do operário e, diante de sua mulher, suas duas filhas e alguns parentes, disse secamente: ‘O Manoel suicidou-se. Aqui estão suas roupas.’ Em seguida, jogou na calçada um saco de lixo azul com as roupas do operário morto.

Sua mulher então começou a gritar: ‘Vocês o mataram! Vocês o mataram!’

Naquela trágica noite, os parentes que foram até o lnstituto Médico Legal tentar recuperar o corpo do operário morto, sentiram-se pressionados. As autoridades só entregavam o corpo com a condição de que Fiel Filho fosse sepultado o mais rapidamente possível e que ninguém falasse nada sobre sua morte. No domingo, dia 18, às 8:00h da manhã, ele foi sepultado. Desde então, a mulher do operário morto e suas duas filhas desaprenderam de sorrir. Obrigadas ao silêncio, elas nem mesmo se manifestaram quando o então comandante do II Exército, general Ednardo D’Ávila Melo, foi exonerado do seu cargo.

Dias depois, um comunicado do II Exército dizia que Fiel Filho havia se suicidado na prisão e que todos os fatos seriam investigados. Em apenas 20 dias, foi feito um inquérito e, mesmo sem qualquer base legal ou provas concretas, concluiu pelo ‘suicidio’.

Logo depois, o processo foi arquivado.

Dois anos se passaram em silêncio. Até que, recentemente, se pôde provar que, antes de morrer, o operário sofrera torturas. Gritava de dor e pedia aos seus torturadores: ‘Pelo amor de Deus, não me matem.’

Seus gritos foram sumindo durante as torturas até que acabou morrendo estrangulado. Não fora suicídio.

Diante das evidências, a viúva Tereza de Lourdes Martins Fiel resolve romper o silêncio e ingressar na Justiça com uma ação cível contra o Governo, requerendo indenização pela morte de seu marido.

‘Não quero dinheiro. Quero justiça!’ disse ela. Além disso, diante dos novos fatos, requereu-se à Justiça Militar que a morte de Fiel seja novamente investigada, o que está para acontecer.”

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