quarta-feira, 29 de julho de 2009

Golpe de Honduras completa um mês

Combatido por uma tenaz resistência popular e pacífica e condenado por todo o mundo, o golpe militar que derrubou o presidente cosntitucional de Honduras, Manuel Zelaya, completa, nesta terça-feira (28), um mês de existência, sustentado pelas armas e pela repressão. Os usurpadores manobram para ganhar tempo.

Destacadas como tropas de ocupação de seu próprio país, as forças armadas mantêm ações para impedir a mobilização de seus compatriotas, com um trágico saldo de mortes, feridos e presos. Os dirigentes da Frente Nacional contra o Golpe de Estado assinalam que a permanência dos golpistas tem ao fundo o firme apoio de setores de ultradireita do governo e sistemas norte-americanos, informou a agência de notícias Prensa Latina.

O coordenador geral da Frente, Juan Barahona, afirmou que os Estados Unidos têm agido com uma dupla política: o rechaço público ao golpe, enquanto discretamente ajudaa a oxigenar os golpistas.

Por sua vez, o candidato presidencial independente e veterano líder sindical, Carlos Humberto Reyes, apontou, entre os ultra-conservadores que apóiam o golpe, o complexo militar-industrial estadunidense.

Tanto Barahona como Reyes, observam na prolongada mediação do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, organizada pelos Estados Unidos, uma manobra para permitir que os golpistas ganhem tempo.

''Por isso, nós exigimos do presidente Barack Obama uma postura firme contra esses usurpadores do poder'', disse Reyes. A prolongada e inflamada resistência popular trouxe à luz uma realidade que anteriormente estava na sombra para vastos setores humildes da nação.

Os mais ricos, que se reduzem a apenas cerca de 14 famílias, se alinharam ao golpe, entre outros setores de poder tradicionais, enquanto que, contra o golpe, se levantaram grande parte dos mais pobres, cerca de 80% da população.

''Este é um golpe dos empresários e das transnacionais. Prevalece neste país a luta de classes e isso não inventamos'', disse Reyes. ''Estes senhores da oligarquia têm um enorme ódio ao povo, só nos querem para seguir explorando'', colocou ele.

As organizações da Frente acordaram, no domingo passado, reforçar suas ações de resistência pacífica para atingir o retorno incondicional do presidente constitucional, Manuel Zelaya, e a recuperação do Estado de Direito. Os movimentos afirmam que a luta irá continuar na convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, a fim de refundar a nação.

Os governos dos países centro-americanos iniciam nesta terça, na Costa Rica, encontros preparatórios para a 11ª Cúpula de chefes de Estado e de governo do Mecanismo de Diálogo e Concertação de Tuxtla, que discutirá na quarta a crise interna de Honduras. Manuel Zelaya é esperado para a reunião dos mandatários.

Segundo informou a presidência do Panamá, durante a reunião, será analisada a ''mediação do presidente Arias''.

Congresso

Na noite de segunda-feira, o Congresso hondurenho analisou o plano de Arias para resolver a crise política criada pelo golpe de Estado. O Parlamento, que se reuniu poucas vezes desde o golpe de Estado, em 28 de junho passado, foi convocado para analisar um plano elogiado pelo presidente interino, Roberto Micheletti, e apoiado pelos militares, exceto quando esbarra na coerente exigência do retorno de Zelaya à presidência.

O plano de Arias prevê a volta de Manuel Zelaya ao poder em Tegucigalpa, na chefia de um governo de união nacional, que, obviamente, não é do interesse dos golpistas.

A sessão teve início por volta das 16h (19h em Brasília) e após mais de três horas de discussões, os deputados decidiram criar uma comissão encarregada de analisar a proposta e elaborar um relatório, que será discutido em plenário, revelou o novo presidente do Congresso, José Alfredo Saavedra.

''Vamos ter que esperar que a comissão (de sete membros) produza o documento. Nossa obrigação é analisá-lo imediatamente'' após sua conclusão, disse Saavedra, em mais uma tentativa de protelar uma solução conclusiva para o golpe.

A comissão é integrada pelos legisladores Ramón Velásquez, Rodolfo Irias, Toribio Aguilera, Enrique Rodríguez, Emilio Cabrera, Ricardo Rodríguez e Aldo Reyes.
Zelaya na Nicarágua

Zelaya, que voltou por alguns instantes a Honduras na sexta-feira passada, anunciou na véspera sua intenção de permanecer durante toda a semana na Nicarágua, a alguns quilômetros da fronteira hondurenha, para organizar uma ''frente cívica de resistência contra o golpe de Estado''.

Nesta terça, ele deixou o município nicaraguense de Ocotal, perto da fronteira com Honduras, em direção às montanhas na Nicarágua. Em Las Manos, Zelaya espera se reunir ''a qualquer momento'' com a mulher, Xiomara Castro, a filha, Hortensia Zelaya, e a mãe, Hortensia Rosales.

Direitos Humanos?

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou o assassinato de Pedro Ezequiel, simpatizante do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, cujo corpo foi encontrado no sábado com marcas que poderiam ser de tortura.

Em nota, a CIDH, entidade ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA), também pediu ao governo de facto do país, liderado por Roberto Micheletti, que garanta a segurança e a integridade da população.

''A CIDH exige que se investigue este assassinato e se punam os responsáveis'', diz o texto, no qual o órgão manifesta ainda ''profunda preocupação'' com o episódio e ante o ''reiterado uso'' do toque de recolher e da suspensão de garantias civis por parte do regime instaurado depois do golpe de 28 de junho.

O corpo de Pedro Ezequiel, também identificado como Pedro Mondiel Martinez, foi encontrado no sábado em um terreno próximo da fronteira com a Nicarágua, área em que apoiadores aguardam desde a semana passada o possível retorno de Zelaya. Testemunhas afirmaram que o homem havia sido detido pela polícia e que seu corpo apresentava sinais de tortura.

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