sexta-feira, 10 de abril de 2009

Bom texto do dirigente petista Valter Pomar


Os equívocos do PSDB

Alberto Goldman, vice-governador de São Paulo, escreveu um artigo criticando a resolução política aprovada pelo Diretório Nacional do PT no dia 10 de fevereiro. O artigo de Goldman foi publicado pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 5 de abril.

Desconheço se existe uma resolução do Diretório Nacional do PSDB acerca da crise internacional, seus desdobramentos no Brasil e sua influência nos debates da sucessão presidencial.

Assim, fico sem um parâmetro essencial para saber se a resolução do PT, de cuja redação e aprovação eu participei, é mesmo (como afirma Goldman) “simplista”; ou se o adjetivo é apenas um cacoete típico da arrogância com que os tucanos qualificam qualquer coisa que não tenha origem em suas “mentes brilhantes”.

Fiquei com a impressão, entretanto, que Goldman não leu com atenção a resolução que critica. Se tivesse lido, teria percebido que antes da constatação –ademais, óbvia— de que estamos “diante de uma crise do sistema capitalista como um todo, na forma neoliberal que assumiu nos últimos 30 anos", há uma descrição e uma análise que o vice-governador tucano não questiona.

Pior ainda: Goldman critica algo que o texto do PT simplesmente não diz, a saber, que esta crise “significa um tiro de morte no sistema de produção capitalista”.

Insisto: a resolução aprovada pelo Diretório Nacional do PT não afirma, não insinua, não sugere, em nenhum momento, em nenhuma passagem, em nenhum trecho, que esta crise seja “um tiro de morte” no capitalismo. E, ao contrário do que diz Goldman, o documento do PT apresenta propostas concretas e imediatas para enfrentar a crise, inclusive “reformas radicais e urgentes dos organismos econômicos e financeiros multilaterais”.

Seria cômodo acusar Goldman de mentiroso, pura e simplesmente. Mas talvez seja mais útil tentar entender por qual motivo ele critica com tanta ênfase algo que não está no texto aprovado pelo PT.

Arrisco duas explicações: primeiro, o documento aprovado pelo Diretório Nacional do PT reafirma a orientação socialista do Partido, orientação que a crise torna ainda mais atual. Segundo, ao nos acusar de estúpidos, Goldman desvia a atenção da estupidez tucana.

A profunda hegemonia do capitalismo, hoje, é exata e somente isto: um fato. Deste fato não deriva, como pensa Goldman, que o capitalismo seja eterno, que a sociedade humana seja incapaz de organizar de outra maneira a produção e a distribuição das riquezas, que o socialismo tenha se tornado inviável.

Se não for pedir demais, recomendamos a Goldman que leia a resolução do 3º Congresso do Partido dos Trabalhadores, especialmente o capítulo “socialismo petista”, onde está uma síntese do que defendemos. Um socialismo cujos “principais traços” incluem: a mais profunda democratização; um compromisso internacionalista; o planejamento democrático e ambientalmente orientado; a propriedade pública dos grandes meios de produção.

O fato de reafirmarmos nossa defesa do socialismo, não significa que acreditemos que esta crise é “um tiro de morte” no capitalismo, nem que ela necessariamente vai “apressar a transição” para uma sociedade socialista.

Muito ao contrário de qualquer fatalismo, longe de qualquer otimismo de Poliana, a resolução do PT fala o seguinte:

a) “assistimos a uma disputa entre diferentes projetos: forças conservadoras, progressistas e socialistas competem para definir o desenho do mundo pós-crise”;

b) é necessário “impedir que a crise jogue o país na recessão; mais do que isto, é preciso transformar a crise numa oportunidade para acelerar a transição, já iniciada pelo governo Lula, em direção a outro modelo econômico-social”;

c) “a vitória do projeto progressista e de esquerda dependerá, em grande medida, da articulação do campo democrático-popular e da construção de um programa para o próximo mandato presidencial, que articule o que fizemos desde 2003 com nosso projeto democrático-popular de horizonte socialista”.

Nós não causamos a crise. Nós não comemoramos a crise, que do ponto de vista imediato causa impactos sociais e econômicos negativos para a maior parte do povo, a começar pelo desemprego. Nós não agimos como os tucanos, que torcem pelo agravamento da crise, na perspectiva de colher dividendos eleitorais em 2010. Nós não nos acovardamos frente à crise, que comprova o acerto das mudanças que estamos fazendo no país e que precisamos aprofundar.

É impressionante que o vice-governador, ex-comunista, tenha se tornado mentalmente tão conservador, a ponto de criticar inclusive isto: que uma crise seja, ao mesmo tempo, risco e oportunidade.

Aliás: se esta crise oferece também oportunidades para o Brasil, é exatamente na medida em que o governo Lula não seguiu a “trilha aberta pelo governo FHC”. Pois esta trilha, falemos com clareza, conduzia à privatização dos bancos públicos e à implantação da Área de Livre Comércio das Américas, para ficar apenas nestes dois exemplos.

Olhando ao revés: as dificuldades que temos, para enfrentar esta crise, originam-se exatamente da herança maldita do governo anterior, daquilo em que ainda não conseguimos romper com a “trilha” seguida por FHC. Por exemplo: o peso da especulação financeira e a legislação que contém os investimentos públicos.

Esta herança ainda é forte, exatamente porque os neoliberais ainda têm enorme força política. Aliás, que curioso: Goldman atacou coisas que não estão na resolução do PT. Mas não se deu ao trabalho de negar que os tucanos são neoliberais.

Pelo menos nisto, pensou mais como ex-comunista do que como anticomunista, figurino que ele veste quando busca desqualificar quem acha, como nós do PT, que é possível e necessário construir outro tipo de sociedade, que não esteja submetido a crises periódicas causadas por um modo de produção que se organiza em torno do lucro e da exploração.

Valter Pomar é secretário de Relações Internacionais do PT

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