quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Marcio Pochmann defende jornada de 12 horas semanais.

Enquanto nesta terça (25) pela manhã, na Câmara dos Deputados, trabalhadores e empresários não se coadunavam em torno da proposta de redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicadas (Ipea), Marcio Pochmann, surpreendia uma pequena plateia de professores e estudantes no Campus da Universidade de Brasília (UnB) com a seguinte afirmação: “Não há mais razão para se trabalhar mais do que 12 horas por semana.”

O economista participou do seminário da Comissão UnB 50 anos de Brasília que debateu o tema “Como será o trabalho no século XXI?”. Ele, que prevê uma jornada de quatro e apenas três dias por semana, diz que as condições para isso já estão colocadas.

Pochamann explicou que há o chamado excedente imaterial gerado pelo trabalho intelectual. “As pessoas não trabalham oito horas por dia, elas trabalham 24 horas, porque estão plugadas o tempo todo, gerando conhecimento que está sendo absorvido pelas empresas”, diz um trecho da palestra divulgada em matéria da Agência UnB.

Com o contingente maior de pessoas produzindo num ambiente de trabalho onde o setor de serviço é hegemônico - no Brasil 70% dos postos de trabalho já estão no setor contra um índice de 90% no mundo -, a redução da jornada passa a ser uma realidade.

O presidente do Ipea só alerta para o fato de que o trabalhador ainda não põe na sua conta o excedente imaterial, isto é, as horas em que permanece na empresa pensando como melhorar o serviço. Como isso ainda não é medido, a empresa se apropria.

Segundo Pochamann, no campo educacional, a situação também terá que ser diferente. “A escola será para a vida toda, e vai ensinar para a vida, não para o trabalho (...) Temos que abandonar a escola utilitarista”, destacou Pochamann.

Pensamento utópico

Segundo a Agência UnB, Pochmann reconhece que essas propostas talvez representem um sonho utópico, que nunca se realizará. “Mas destaca que tudo isso são decisões políticas, que dependem da vontade da sociedade organizada para acontecer. E lembra que o Brasil, infelizmente, está no caminho contrário.”

“Estamos cada vez mais ignorantes. De cada dez jovens com 18 a 24 anos de idade, apenas um está estudando”, diz Pochmann, criticando a ida cedo ao mercado de trabalho por causa da falta de condições da família em manter os jovens na escola.

Pelos cálculos do economista, existem estudante com jornada de 16 horas, isso levando em conta as oito horas no emprego, quatro na faculdade e quatro para o deslocamento. “É uma jornada de trabalho igual a dos operários do século XIX. Como é que alguém vai ter tempo de ainda abrir um livro? Estudar e trabalhar não combina.”

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