quinta-feira, 18 de março de 2010

Mais uma do Emir

Os fariseus e a dignidade

O que sabem os leitores dos diários brasileiros sobre Cuba? O que
sabem os telespectadores brasileiros sobre Cuba? O que sabem os
ouvintes de rádio brasileiros sobre Cuba? O que saberia o povo
brasileiro sobre Cuba, se dependesse da mídia brasileira?

O que mais os jornalistas da imprensa mercantil adoram é concordar com
seus patrões. Podem exorbitar na linguagem, para badalar os que pagam
seu salários. Sabem que atacar ao PT é o que mais agrada a seus
patrões, porque é quem mais os perturba e os afeta. Vale até dar
espaco para qualquer mercenário publicar calúnias contra o Lula, para,
depois jogá-lo de volta na lata do lixo.

No circo dessa imprensa recentemente realizado em São Paulo, os
relatos dizem que os donos das empresas – Frias, Marinhos – tinham
intervenções mais discretas, – ninguem duvida das suas posiçõoes de
ultra-direita -, mas seus empregados se exibiam competindo sobre quem
fazia a declaração mais extremista, mais retumbante, sabendo que
seriam recolhidas pela mídia, mas sobretudo buscando sorrisinho no
rosto dos patrões e, quem sabe, uns zerinhos a mais no contracheque no
fim do mês.

Quem foi informado pela imprensa que há quase 50 anos Cuba já terminou
com o analfabetismo, que mais recentemente, com a participação direta
dos seus educadores, o analfabetismo foi erradicado na Venezuela, na
Bolívia e no Equador? Que empresa jornalística noiticiou? Quais
mandaram repórteres para saber como países pobres ou menos
desenvolvidos conseguiram o que mais desenvolvidos como os EUA ou
mesmo o Brasil, a Argentina, o México, náo conseguiram?

Mandaram repórteres saber como funciona naquela ilha do Caribe, pouco
desenvolvida economicamente, o sistema educacional e de saúde
universal e gratuito para todos? Se perguntaram sobre a comparação
feita por Michael Moore no seu filme "Sicko" sobre os sistemas de
saúde – em particular o brutalmente mercantilizado dos EUA e o público
e gratuito de Cuba?

Essas empresas privadas da mídia fizeram reportagens sobre a Escola
Latinoamericana de Medicina que, em Cuba, já formou mais de cinco
gerações de médicos de todos os países da América Latina e inclusive
dos EUA, gratuitamente, na melhor medicina social do mundo? Foi
despertada a curiosidade de algum jornalista, econômico, educativo ou
não, sobre o fato de que Cuba, passando por grandes dificuldades
econômicas – como suas empresas não deixam de noticiar – não fechou
nenhuma vaga nem nas suas escolas tradicionais, nem na Escola
Latinoamericana de Medicina, nem fechou nenhum leito em hospitais?

Se dependesse dessas empresas, se trataria de um regime “decrépito”,
governado por dois irmãos há mais de 50 anos, um verdadeiro “goulag
tropical”, uma ilha transformada em prisão.

Alguém tentou explicar como é possivel conviver esse tipo de sociedade
igualitária com a base naval de Guantánamo? Se noticiam regularmente
as barbaridades que ocorrem lá, onde presos sob simples suspeita, são
interrogados e torturados – conforme tantas testemunhas que a imprensa
se nega em publicar – em condições fora de qualquer jurisdição
internacional?

Noticiam que, como disse Raul Castro, sim, se tortura naquela ilha, se
prende, se julga e se condena da forma mais arbitrária possível,
detidos em masmorras, como animais, mas isso se passa sob
responsabilidade norteamericana, desse mesmo governo que protesta por
uma greve de fome de uma pessoa que – apesar da ignorância de
cronistas da família Frias – não é um preso, mas está livre, na sua
casa?

Perguntam-se por que a maior potência imperial do mundo, derrotada por
essa pequena ilha, ainda hoje tem um pedaco do seu territorio?
Escandalizam-se, dizendo que se “passou dos limites”, quando constatam
que isso se dá há mais de um século, sob os olhos complacentes da
“comunidade internacional”, modelo de “civilização”, agentes do
colonialismo, da escravidão, da pirataria, do imperialismo, das duas
grandes guerras mundiais, do fascismo?

Comparam a “indignação” atual dos jornais dos seus patrões com o que
disseram ou calaram sobre Abu-Graieb? Sobre os “falsos positivos”
(sabem do que se trata?) na Colômbia? Sobre a invasao e os massacres
no Panamá, por tropas norteamericanas, que sequestraram e levaram para
ser julgado em Miami seu ex-aliado e então presidente eleito do país,
Noriega, cujos 30 anos foram completamente desconhecidos pela
imprensa? Falam do muro que os EUA construíram na fronteira com o
México, onde morre todos os anos mais gente do que em todo tempo de
existência do muro de Berlim? A ocupação brutal da Palestina, o cerco
que ainda segue a Gaza, é tema de seus espacos jornalisticos ou melhor
calar para que os cada vez menos leitores, telespectadores e ouvintes
possam se recordar do que realmente é barbarie, mas que cometida pela
“civilizada” Israel – que ademais conta com empresas que anunciam
regularmente nos orgãos dessas empresas – deve ser escondida? Que
protestos fizeram os empregados da empresa que emprestou seus carros
para que atuassem os servicos repressivos da ditadura, disfarçaados de
jornalistas, para sequestrar, torturar, fuzilar e fazer opositores
desaparecerem? Disseram que isso “passou de todos os limites” ou
ficaram calados, para não perder seus empregos?

Mas morreu um preso em Cuba. Que horror! Que oportunidade para bajular
os seus patrões, mostrando indignação contra um país de esquerda! Que
bom poder reafirmar diante deles que se se foi algum dia de esquerda,
foi um resfriado, pego por más convivências, em lugares que não
frequentam mais; já estão curados, vacinados, nunca mais pegarão esse
vírus. (Um empregado da família Frias, casado com uma tucana,
orgulha-se de ter ido a todos os Foruns Econômicos de Davos e a nenhum
Fórum Social Mundial.
Ali pôde conhecer ricaços e entrevistá-los, antes que estivessem
envoldidos em escândalos, quebrassem ou fossem para a prisão. Cada um
tem seu gosto, mas não dá para posar como “progressista”, escolhendo
Davos a Porto Alegre.)

Não conhecem Cuba, promovem a mentira do silêncio, para poder difamar
Cuba. Não dizem o que era na época da ditadura de Batista e em que se
transformou hoje. Não dizem que os problemas que têm a ilha é porque
não quer fazer o que fez o darling dessa midia, FHC, impondo duro
ajuste fiscal para equilibrar as finanças públicas, privatizando,
favorecendo o grande capital, financeirizando a economia e o Estado.
Cuba busca manter os direitos universais a toda sua população, para o
que trata de desenvolver um modelo econômico que não faça com que o
povo pague as dificuldades da economia. Mentem silenciando sobre o
fato de que, em Cuba, não há ninguem abandonado nas ruas, de que todos
podem contar com o apoio do Estado cubano, um Estado que nunca se
rendeu ao FMI.

Cuba é a sociedade mais igualitária do mundo, a mais solidária, um
país soberano, assediado pelo mais longo bloqueio que a história
conheceu, de quase 50 anos, pela maior potência econômica e militar da
história. Cuba é vítima privilegiada da imprensa saudosa do Bush,
porque se é possivel uma sociedade igualitária, solidária, mesmo que
pobre, que maior acusação pode haver contra a sociedade do egoísmo, do
consumismo, da mercantilizacao, em que tudo tem preço, tudo se vende,
tudo se compra?

Como disse Celso Amorim, o Ministro de Relações Exteriores do Brasil:
os que querem contribuir a resolver a situação de Cuba tem uma fórmula
muito simples – terminem com o bloqueio contra a ilha. Terminem com
Guantanamo como base de terrorismo internacional, terminem com o
bloqueio informativo, dêem aos cubanos o mesmo direito que dão
diariamente aos opositores ao regime – o do expor o que pensam.
Relatem as verdades de Cuba no lugar das mentiras, do silêncio e da
covardia.

Diante de situações como essa, a razão e a atualidade de José Martí:

“Há de haver no mundo certa quantidade de decoro,
como há de haver certa quantidade de luz.
Quando há muitos homens sem decoro, há sempre outros
que têm em si o decoro de muitos homens.
Estes são os que se rebelam com força terrível
contra os que roubam aos povos sua liberdade,
que é roubar-lhes seu decoro.
Nesses homens vão milhares de homens,
vai um povo inteiro,
vai a dignidade humana…

Nenhum comentário:

Postar um comentário