terça-feira, 8 de setembro de 2009

" O Brasil pós Lula"

Achei inteligente a propositura apresentada pelo PSB em seu programa recentemente divulgado em cadeia de rádio e TV. Não é um debate inédito, óbvio, mas é válido pelo reforço que faz da necessidade de se pensar o Brasil “pós Lula” (ou seja, o passo seguinte após os dois primeiros governos do presidente Lula, podemos ter outros). Ficou claro pelo programa, que o período que se avizinha deve ser mais radical, popular e pela esquerda. Isso foi o que entendi da mensagem midiática dos socialistas. Radical sim, radical é ir cada vez mais à raiz dos problemas e o deputado Ciro Gomes (ancora do programa) falou em aprofundar as mudanças em curso no país. Aprofundar é ir ar raiz, ou não? Quem pode fazer isso? Que forças? Que sujeitos políticos e representantes democráticos são capazes de simbolizar e representar esse aprofundamento?
Nas eleições de 2010 será escolhido aquele ou aquela que representará melhor essa “radicalização”. Ciro Gomes tem avançado para a esquerda, critica ferozmente o neoliberalismo e “bate de frente” com alguns dos seus representantes (principalmente o baronato paulista), domina a pauta política, econômica, social e a conjuntura internacional e nacional. Não pode ser desconsiderado (separando-o um pouco do PSB, partido de esquerda com força ideológica e social inquestionável) de maneira alguma em qualquer movimentação política que ocorra no país.

Alguns laços ainda mantidos por conta de relações políticas construídas ao longo da sua vida pública tiram de Ciro Gomes a condição de simbolizar e expressar no momento, o “avançar” cobrado legitimamente do “3º governo” do projeto iniciado pelos dois mandatos presidenciais do petista Lula. Governos estes que não foram frutos de uma obra de marketing eleitoral e muito menos de um pacto com as elites brasileiras, é conseqüência da luta histórica do nosso povo contra a arrogância, o autoritarismo, o mandonismo, a concentração de renda, saber e poder que a burguesia sempre submeteu nosso povo ao longo da nossa história. Lula encarna na atual quadra política brasileira e em sua presente correlação de forças e grau de conscientização em que se encontra o nosso povo, o melhor símbolo de representação democrática da lógica inversa de como o país havia sido governado até a sua eleição para presidência da república em 2002.

Simbolizar o avanço desse processo significa superar ainda mais o já realizado até aqui, aprofundar o seu viés socializante. Inclusive superando com o avanço da cidadania algumas relações políticas necessárias até então. Se para o PT isso não é algo fácil, imagine para Ciro Gomes, a quem respeito e acredito na seriedade das suas intenções. Suas relações políticas com os resquícios e alguns entulhos neoliberais, que tentam prejudicar o avanço progressista do Brasil, dificultam sua investidura simbólica como o herdeiro de um processo que exige maior radicalidade progressista.

Caso avance mais ainda e rompa com esse passivo, terá mais respaldo para a defesa do que entendi ser a mensagem do PSB em seu programa de TV, ou seja, aprofundar pela esquerda o processo em curso no país aberto com a eleição de Lula em 2002 e sua reeleição em 2006. Caso contrário sua defesa não se torna consistente e será questionada legitimamente pela relação extremante estreita com os neoliberais empedernidos Tasso Jereissati e Aécio Neves.

Não existe neoliberalismo sem neoliberais. Tasso e Aécio não são neoliberais? O talentoso político cearense encontrará dificuldades em propor avanços progressistas (colocará inclusive seu partido em dificuldades) se manter as alianças com os que “o puxam” na direção contrária ao ambiente de progresso que já nos reportamos, fazendo um movimento de reação, contrario, portanto reacionário.

Rompendo publicamente e construindo na prática relações políticas com o bloco “histórico da esquerda” terá maior chances de se apresentar como uma forte opção para esse “aprofundamento”.

Um exemplo interessante dessa “ambigüidade” foi o processo eleitoral de 2008 em Fortaleza. O apoio dado pelo deputado Ciro Gomes a candidatura (apoiada pelo PSDB do senador tucano Tasso Jereissati) contrária a candidatura que aglutinava a base aliada progressista e de esquerda do governo Lula, a mesma que elegeu Cid Gomes em primeiro turno em 2006 derrotando os candidatos apoiados ou do partido de Tasso ao governo e ao senado. Essa contradição real retira-lhe a simbologia objetiva, condição necessária para Ciro Gomes representar essa “radicalização” urgente e necessária, pois correto está em afirmar que sem ela não terá consolidação o projeto democrático e popular que vivenciamos.

Rompendo com Tasso e Aécio, ambos do PSDB, Ciro Gomes se fortalece, vejo sinceridade em sua leitura do Brasil e o desejo de colaborar com o país onde o poder econômico e político ainda é muito marcado pelo peso das elites. Nada mais coerente e socializante que devolver o poder em todos os aspectos, ao seu legitimo dono, ou seja, o nosso povo. Mesmo Ciro Gomes fazendo essas rupturas necessárias ainda vejo “o terreno” mais favorável para uma candidatura do PT como simbolizadora do aprofundamento e a radicalização necessária para o acerto de contas do país com o seu povo. Não somente pela “ambigüidade” aqui descrita que ainda carrega o potencial presidenciável do PSB, mas pelo lastro social, político e o enraizamento indiscutível que o PT tem em um país continental como é o nosso.

É, portanto um candidato ou uma candidata do PT que simboliza o avanço mais a esquerda do que já construído até aqui. Sem sectarismo e hegemonismo. Diálogo, tolerância e construção coletiva são condições indispensáveis para a unidade das forças capazes (não será apenas um partido) de impulsionar e aprofundar o projeto democrático e popular. A tese aqui defendida é de um nome que solidifique esta unidade. Não estou convencido que duas candidaturas da base é uma tática que nos fortalece, é cedo, mas sou adepto da unidade do bloco já no primeiro turno.

Acho o debate e a movimentação das outras forças progressistas e de esquerdas válidas, respeitarmos sua força, dialogarmos com franqueza e estarmos abertos as novas possibilidades (seguindo uma linha de coerência) surpreendentes que às vezes a política nos apresenta não pode ser desconsiderada. O sectarismo tem sido rejeitado pelo nosso povo. Não adianta a “auto-proclamação” do tempo novo é preciso “por a mão na massa”.

O PSB corretamente acertou no que deva ser o mote das eleições do ano que vem. Findados os oito anos de governo Lula, “beleza”, avançamos muito, não há comparação dos nossos oito anos com nenhum outro período da nossa história, mas para as transformações terem sustentabilidade e efeito duradouro é inevitável o acerto de contas com as elites brasileiras ainda muito longe de estar concluso.

Esse discurso ganhará as massas que compreendem o avanço em curso e diferenciam Lula e o seu governo do período de domínio elitista seja neoliberal ou não, mas sente e sabe que ainda falta muito para construirmos um país justo, democrático e com mais igualdade social.

O debate é salutar e sai do campo de nomes para o embate programático. A pergunta é: quem tem lastro social, político e ideológico para cobrar a fatura da burguesia brasileira com mais altivez e força? Acho que só o próprio povo, quem tem mais capacidade de reorganizá-lo? O PT rebaixou o programa para chegar ao governo. Sem recuperar (o seu programa) ficará difícil transformar o apoio ao Lula em apoio ao seu projeto de poder. Para sermos honestos com a história e a leitura correta e dialética da conjuntura, e não se trata de “bairrismo partidário”. É o PT hoje pelos motivos aqui já citados (se assim desejar, se não fizer cometerá um erro crasso) a força social e política que mais “enraizamento” conseguiu e ainda pulsa (não é a única, óbvio) no seio do proletariado e dos excluídos do Brasil.

Essa é uma boa provocação para o PT, que acho se quiser continuar como o aglutinador desses desejos, terá que ratificar não só no programa mais em ações governamentais “mais radicais” o avanço do povo sobre as elites. Caso não compreenda isso será vitima das conseqüências expressas no repetido ditado já batido no mundo da política de que nela “não existe vácuo".

À direita com Serra, Tasso, Aécio, FHC e DEM e o centro (fisiologista e sempre auxiliar da elite brasileira com honrosas exceções) estão batendo cabeça e não são alternativas para o povo. A extrema esquerda e alguns quadros políticos (que merecem nosso respeito e não podem ser desconsiderados) que deixaram o PT, por algumas divergências pontuais, algumas delas com certo grau de justeza, mais insuficientes diante de uma aplicação programática que não traiu seus princípios fundantes para justificar uma ruptura, não me parecem se constituírem alternativa e possuírem lastros populares e ideológicos suficientes exigidos pela radicalidade necessária aqui expressa. Isso não quer dizer que o projeto em curso não precise de celeridade e de mais radicalização, é isso que estamos apontando de forma clara nesta missiva. Quem não compreender isso não tem a dimensão exata da disputa de hegemonia em curso no país. Se avançarmos, estaremos de fato reescrevendo a história do Brasil para este e os próximos séculos.

Legitimamente são PT, PSB, PCdoB e os setores democráticos e de centro esquerda (incluindo ai parte do PMDB e partidos menores) a coluna vertebral dessa construção. É indubitavelmente, não por hegemonismo ou vocação centralizadora, pelo contrário, acho que ampliamos demais o arco de alianças (o projeto sente, recua em sua originalidade) o PT a força sem demérito de nenhuma outra, o pólo aglutinador do processo. É necessário porem que o PT esteja convencido disso. Só haverá transformação duradoura e popular no país, se houver enfrentamento com os privilégios das elites brasileiras e o grau elevado de controle que ainda detém da maquina de estado onde a burocracia, a falta de controle social e a sua lenta democratização, são aliados e pilares da sua sustentação. Superar essa lógica é condição indispensável para avançar no projeto, caso contrário, corremos o risco de sermos apenas “um hiato progressista, no secular domínio das elites brasileiras” sobre o poder de estado e o nosso povo.

Não tratamos aqui do mundo “privado” onde a burguesia gerencia com quase nenhum controle social boa parte da vida do país, possuem o “poder” de vida e de morte sobre nosso povo. Esse domínio vai desde as comunicações, passando pela iniqüidade da divisão da terra, na educação, na produção, enfim nas condições mínimas de igualdade e dignidade merecidas por qualquer ser humano.

Construirmos alianças programáticas, superando a sustentação “meramente parlamentar” (que nenhuma força de esquerda está isenta) que nem sempre, mas geralmente pela gênese da nossa república se sustenta em um fisiologismo que amarra os avanços progressistas (vamos avançar no orçamento participativo, conselhos e controle social).

Vamos construir a unidade das forças progressistas, democráticas e socialistas, nossa força brota das ruas, dos campos, dos palanques democráticos e libertários, essas são nossas trincheiras. O povo clama por essas mudanças, profundas, avançadas e socializantes. Nosso povo já sofreu demais sob a batuta das elites é hora de tomar a “direção da barca”. Vamos conversando, construindo a unidade popular ela é decisiva. Nela cabem todos e todas (as multidões e indivíduos) que sonham com o encontro do Brasil como seu povo, como muitos que nos antecederam e em muitos casos de forma generosa entregaram suas vidas para ver o sonho brasileiro de democracia e igualdade se realizar. O contrário já não nos cabe. Nosso povo ta sabendo muito bem o que quer, com liberdade e democracia edificará em nosso país continente uma página importante da construção de um mundo novo, dando sua contribuição para a duradoura, livre, democrática, igualitária e fraterna, primavera dos povos.



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